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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Afonso Celso 401 , Hugo Leal e Luís Murat. No tocante à prosa, Pinto do Carmo (1959: 59-<br />

dessa edição: “Boadil é considerada a peça menos inspirada do autor, já supostamente no declínio de seu<br />

entusiasmo, descrente nas instituições culturais da corte e quase cético em relação à poesia. Escrito na<br />

quarentena da febre amarela que contraíra, o drama andaluz-oriental inspirou-se na história do último sultão<br />

de Granada, tal como é narrada no livro Travels through Spain 1775-1776 do escritor inglês Henry Swinburne<br />

(1743-1803), provavelmente por meio da tradução para o francês de J. B. Laborde, publicada em 1787.<br />

Extraiu material apenas indiretamente do romance Les aventures du dernier Abencérage de Chateaubriand,<br />

publicado em 1826. [...] Ora, a novela de Chateaubriand não trata do mesmo episódio dramatizado por Dias, e<br />

sim do retorno de Aben-Hamet a Granada 24 anos depois. Dias realizou uma pesquisa razoável para redigir<br />

Boabdil. A base do enredo é linear. Corre o ano de 1492. O reino de Granada, governado pelo chefe<br />

muçulmano Boabdil, está cercado pelos espanhóis cristãos, prontos a derrubar as muralhas. Aben-Hamet, ou<br />

Ibrahim, é o último da linhagem dos Abencerrages, família nobre que dominou a península Ibérica e que se<br />

encontrava no exílio. O guerreiro foi amante da mulher do Boabdil, Zoraima, e volta a Granada na esperança<br />

de reavivar a paixão. Ambos se reencontram e caem na armadilha de Aíxa, mãe de Boabdil. Enquanto<br />

Granada está prestes a cair, o casal de amantes é morto por ordem do rei. [...] Quem sabe, se encenado hoje, o<br />

drama não pudesse ser utilizado como alegoria da invasão do mundo islâmico pelo Ocidente, e apologia do<br />

amor proibido. Henriques Leal apreciava a peça: “É aparatoso, de muita ação e movimento, e deve produzir<br />

em cena magnífico efeito”, comenta. Ressalta o cenário e a violência passional do enredo, em estilo<br />

“opulento, ameno, correto e elegante como tudo quanto é escrito por Gonçalves Dias”. Para sustentar o valor<br />

do drama, apóia-se no juízo do crítico português Sotero dos Reis, que enfatiza o “gosto moderno” e as<br />

situações “verdadeiramente dramáticas” de Boabdil. E aqui cabe uma curiosidade: Dias evitou repetir a<br />

história de Chateaubriand, segundo a qual Aben-Hamet voltava do exílio para se reencontrar com Bianca,<br />

descendente do herói El-Cid, pertencente à família Bivar – o mesmo sobrenome do censor do Conservatório.<br />

É de supor que Dias quisesse ocultar o dado e, assim, não desagradar o censor-mor. Optou, então, pelo livro<br />

de viagem de Henry Swinburne. Seja como for, a cornucópia de golpes e reviravoltas contida em Boabdil<br />

ofereceria material fecundo aos encenadores no presente “choque de civilizações”. Pinto do Carmo (1960: 45)<br />

cita os Cantos XIV e XV de Queixumes como uma mostra do uso de motivos espanhóis – andaluzes e<br />

heróicos – de significação romântica na forja da poesia de Gonçalves Dias: “Não te esqueças de mim! – Por<br />

Sevilha/ Quando o peito de branco marfim/ Perceberes na preta mantilha,/ Sombreado por leve carmim;/<br />

Quando vires passar a Andaluza/ Pelos montes, com ar majestoso,/ Decantando nas modas de que usa/ As<br />

loucuras do Cid amoroso”. Outrossim, observa-se no poema Zulmira do qual Pinto do Carmo reproduz os<br />

primeiros versos: “Sonhara-te eu na veiga de Granada,/ Tapetada de flores e verdura,/ Onde o Darro e Xenil<br />

no lento giro/ Volvem a linfa pura./ Ali te vejo em leda comitiva/ Dos gentis cavaleiros do oriente,/ Quando,<br />

deposta a malha do combate,/ Vestem da paz a seda reluzente./ Ali te vejo num balcão sentada,/ Grande preço<br />

da maura arquitetura,/ Pejando as asas das noturnas brisas/ Dum canto de ternura”. Além disso, Pinto do<br />

Carmo menciona que Golçalves Dias (1960: 46) traduzira um poema de Lope de Vega e que uma dezena dos<br />

seus poemas fora traduzida para o castelhano e musicada por José Amat e Horácio Varela.<br />

401 Affonso Celso publicou Trovas de Hespanha. A primeira edição do opúsculo foi feita pela casa editora<br />

“Laemmert e Cia”, em 1904. Nós utilizamos a segunda edição, de 1922, publicada em São Paulo pela<br />

Monteiro Lobato & Cia – Editores, com uma gravura de uma mulher flamenca estampada na capa. Nessa<br />

segunda edição está contido o prefácio da primeira edição, datado em 1903, em que se informava que os<br />

versos traduzidos foram colhidos nos Cantares Populares y Literários, recopilados por D. Melchor Paláu<br />

(edição ilustrada de Montaner y Simon, Barcelona, 1900). Affonso Celso adverte que alguns desses cantares<br />

espanhóis foram traduzidos, outros foram parafraseados, de outros se tirou “a idéia” e receberam nova forma<br />

e a outros se deu rima, “inexistente ou incompleta no original”. Nesse prefácio, Affonso Celso informa<br />

também que, nos “Cantares”, “observa D. Melchor de Paláu, palpitam as queixas, máximas, anseios,<br />

conselhos, remoques, súplicas, exagerações de um povo; constituem-lhe a alma inteira; revelam-n’o tal qual é,<br />

com as suas virtudes e simpáticos defeitos; formam-lhe a íntima, sincera, apaixonada autobiografia. A cantiga<br />

popular é uma lição constante para os artistas ponderam Agostinho de Campos e Alberto de Oliveira, no<br />

prefacio das “mil trovas” portuguesas. Tornar conhecidos no Brasil alguns traços interessantes [...] e, si<br />

possível, transmitir aos leitores essa lição, – eis o intuito do presente trabalho”. Antes da publicação de Trovas<br />

de Hespanha, Affonso Celso publicara, em 1990, no IV Centenário do descobrimento do Brasil, Poque me<br />

ufano do meu paiz, um manifesto patriota em que expõe dez razões para que um brasileiro se sinta orgulhoso<br />

da sua pátria: “a sua grandeza territorial, a sua beleza, a sua riqueza, a variedade e amenidade de seu clima,<br />

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