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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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encontro naquelas horas arrepiava-me. Duas sombras agitavam-se na relva, agarradas como em<br />

peleja. Reparei melhor, com a mão posta no revólver. Vi branquejar duas pernas que oscilavam<br />

violentamente no ar; vi pedaços de panos brancos que flutuavam como galhardetes de um navio<br />

enfeitado; vi duas mãos que apalpavam ansiosas e uma constelação de olhos que relampejavam em<br />

volta de uns lábios vermelhos, sangrantes, ardidos... Vi duas bocas muito juntas e ouvi um beijo que<br />

se continuou retorcido, buscando numa infinita espiral de desejos a profundeza dos gozos nunca<br />

vistos. E compreendi todo o sentimento pagão deste povo, que se entrega a desfrutar a vida, sem<br />

preconceitos covardes nem preocupações inúteis (Las Casas, 1938: 97-88).<br />

Aos 5 de março Fernando redige a valorização sobre a vida sexual das crianças e<br />

dos adolescentes camponeses da Galiza:<br />

Julgo que as crianças aldeãs são de uma incrível precocidade, e têm a sua vida sexual muito mais<br />

adiantada que os jovens da cidade; mais ainda: penso que para o rapaz das nossas aldeias a vida é<br />

sexo, e nada mais. Propriedade, família, religião, todos esses mundos que tanto a nós nos inquietam,<br />

são para eles insuspeitados. A vida sexual começa a se desenvolver neles aos dez anos, e a resolverse<br />

aos doze; aos quinze já têm ensaiadas as formas mais simples e primitivas do matrimônio (Las<br />

Casas, 1938: 100).<br />

Aos 15 desse mês, disserta sobre a prática do amor entre os campônios galegos,<br />

observando a existência de várias etapas nessa vivência. Estabelece como a primeira a<br />

“atração sexual” que se desenvolve sem preconceitos morais e se satisfaz com luxúria; a<br />

segunda é a “razão de camaradagem”, pela qual se procura o amor entre a vizinhança e a<br />

parentela ainda que esse razão possa ser descumprida por vaidade e por vontade de<br />

provocação: “conseguir amor longe da casa pressupõe dobrada vitória, a cidade respeita o<br />

estrangeiro, mas a cidade repele-o” (Las Casas, 1938: 101). A terceira etapa é marcada pela<br />

necessidade econômica:<br />

o rapaz casado deixa de entregar aos pais o seu salário, tem uma mulher que o ajuda nos trabalhos, e<br />

algum dia pode ter filhos que o ajudarão com a sua mensalidade a aumentar o patrimônio. A<br />

virgindade é problema que não conta muito, nem conta tampouco a fortuna da mulher: o que importa<br />

é que seja laboriosa, pois as mãos são capital. Não importa ter dinheiro, senão terras, e cultivá-las<br />

sem auxílio alheio, porque assim na colheita todos são ingressos. Se vierem maus anos o marido<br />

emigra, e a mulher tem de ser de tal jeito que possa continuar administrando a casa e defendendo a<br />

herdade. O respeito à mulher casada tem categoria religiosa: “Para que me deste o si/ traidora sendo<br />

casada?/ para que me deste o si/ non me valendo de nada?” No casamento importa o matrimônio<br />

canônico, não o civil (Las Casas, 1938: 102).<br />

Fernando, aos 2 de abril, registra a sua interpretação racial da emigração galega a<br />

América:<br />

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