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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Vieram dizer-nos adeus dois lavradores que partem amanhã para a América. Cruzei toda a Europa<br />

muitas vezes e sempre sem emoção nas despedidas, mas confesso que se alguma vez empreendesse<br />

uma viagem transatlântica, sentiria uma tristeza profunda, insuportável. Para estas gentes, que nunca<br />

saíram da comarca, a América está aí, ao lado, ao alcance da mão, e Madrid – por exemplo – a um<br />

milhar de léguas. É a raça, que está olhando o mar, de costas para o continente; que se sente atraída<br />

pelas vagas e tem pavor dos caminhos. Raramente encontrei em nosso interior quem conhecesse o<br />

resto da Espanha, e vi milhares de moços que já conheciam os principais portos da Europa e das<br />

Américas.<br />

Toda nossa história está ligada ao mar. Fomos descobridores, no entanto outros povos conquistaram<br />

as nossas descobertas. Fora da beiramar a nossa alma seca-se, amortece, murcha-se, e o mar, em<br />

troca, chama-nos em amoroso convite, em eterno convite de desposórios (Las Casas, 1938: 110-11).<br />

Referindo-se à idéia da morte, à relação dos vivos com os mortos e aos cultos das<br />

“Benditas Almas do Purgatório”, Fernando assevera que “Aos celtas, gente de longa vida<br />

em geral, não nos importa morrer” (Las Casas, 1938: 35). Ele, pois, se identifica com a raça<br />

celta; associa, além do mais, à “Galízia” com os seis países celtas e indica que na literatura,<br />

“desde O’Flery a Castelao, desde Yeast a Otero Pedrayo”, o tema da morte é tratado com<br />

naturalidade e “até com gozo” (Las Casas, 1938: 34), salientando, no entanto, que, embora<br />

os celtas saibam esperar a morte com serenidade, sentem pavor por morrer afogados ou<br />

repentinamente, e angustia-lhes morrer longe “da pátria nativa”. E cita, sem o nomear, a<br />

Castelao:<br />

Há uma página impressionante do ilustre autor de Coisas da Vida, que fará chorar a quantos galegos<br />

a mostreis: – é um emigrante recém-chegado de ultramar, esquelético, amarelo, que agoniza nos<br />

braços de sua mãe velhinha, vendo, pela pequenina janela de seu pobre quarto aldeão, a paisagem<br />

outonal, e diz assim as suas últimas palavras: “Eu não queria morrer lá, sabe, minha mãe?”<br />

Compreende-se que alegria há nesta morte! (Las Casas, 1938: 35).<br />

Fernando, ao se referir à intimidade dos galegos com os seus mortos e ao primor<br />

com que cuidam os seus cemitérios, nomeia também a Murguia citando os jantares que se<br />

realizavam no cemitério de “Noya” que mencionara esse historiador, e pergunta-se:<br />

E eu, Senhor, onde morrerei eu? Meus pés andam percorrendo todos os caminhos todos os caminhos<br />

do mundo, minha frente se enegrece no ar de todos os mares. Muito poucos me acompanharão com a<br />

sua recordação amiga, quando eu morra. Que importa! Minha vida andará nas orações de todos os da<br />

minha raça, que rezarão cada noite por mim, na falange desconhecida dos sem-pátria (Las Casas,<br />

1938: 38).<br />

Com data de 1° de dezembro, Fernando anota no seu diário que conhecera a fidalga<br />

Dona Glória, uma senhora, viúva de um coronel carlista, a qual, havendo tido uma vida<br />

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