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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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entanto, a narrativa Hay que vivir, mas nela não há referências ao Brasil. Também não<br />

sabemos em que grau as “conseqüências” dos incidentes de 1956 e 1957 na Universidade<br />

de Madri afetaram José Luis Casas, mas as posições por ele ocupadas nunca foram as de<br />

um revolucionário esquerdista 648 . Por sua vez, o personagem desenganara-se com o rumo<br />

seguido pela política na Espanha e decidiu deslocar-se ao Cone Sul, onde acreditava que<br />

encontraria camaradas que compartilhavam o seu ideário em torno à comunhão humanista<br />

ibérica. O fracasso de Álvaro na cidade de São Paulo na realização do seu projeto<br />

revolucionário fez com que ele decidisse partir de trem para Montevidéu; lá, ele esperava<br />

contatar com pares. Em Sucedió en Brasil, narra-se essa travessia, que se converte em uma<br />

viagem frustrante. Ao alcançar o estado gaúcho, por, supostamente, não haver linha direta<br />

de trem, o protagonista tem que fazer várias conexões rumo à fronteira, até se deter em<br />

Livramento, onde aguarda instruções procedentes do outro lado da fronteira, que só lhe<br />

chegarão de forma confusa. E, enquanto aguarda, tem que trabalhar para se manter, porque<br />

esgotara o dinheiro que tinha poupado na cidade de São Paulo.<br />

Na cidade de Livramento, Álvaro topou com vários galegos dedicados ao comércio<br />

varejista. Nenhum deles tivera sucesso econômico, pelo qual concentravam os seus<br />

esforços na sobrevivência do dia-a-dia. De fato, o autor ressalta deles o seu modo de vida<br />

decadente, marcado por relações sociais broncas, pela desconfiança que a respeito deles<br />

têm os nativos, pelo incapacidade para formarem famílias felizes com brasileiras e,<br />

geralmente, pelo fracasso dos seus empreendimentos. Assentaram-se em Livramento de<br />

casualidade, logo de haverem tentado a fortuna em localidades brasileiras e uruguaias.<br />

Esses galegos não são retratados como uma colônia unida, senão como um conjunto de<br />

indivíduos desconfiados e rivais, de linguajar soez, que se desprezam e se enfrentam<br />

constantemente em decorrência das humilhações às quais os melhor colocados nos<br />

negócios do comércio submetem os seus patrícios. Um dos galegos melhor sucedidos –<br />

Ricardo –, proprietário de um pequeno armazém de frutas situado em um fedorento porão,<br />

matem o seguinte diálogo com o protagonista Ricardo. Reproduzimo-lo porque nele<br />

patenteiam-se, por um lado, as tensões e as desconfianças, fruto do fracasso e da miséria,<br />

648 Nas décadas de 1970 e 1980, a produção literária de José Luis Casas – a obra Romances del hombre solo<br />

[1970] e a sua narrativa El otro Franco: de mis conversaciones privadas [1981] – e o seu trabalho jornalístico<br />

– diretor da revista En Punta, fundada em 1973, e colaborador de El Alcázar – mostram um intelectual, sem<br />

militância em partidos políticos, oposto ao regime franquista desde uma posição conservadora.<br />

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