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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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uma fração da nacionalidade por meio da emigração e a premeditação para a transformação<br />

da nacionalidade mediante a incorporação de transferências de cidadãos de outra ordem<br />

nacional convertem-se nos dois pólos cúmplices de um mesmo processo.<br />

Na história da imigração no Brasil, o que, em primeiro lugar, legitimou a presença<br />

dos imigrantes foi a necessidade da sua força de trabalho. Junto a essa justificativa principal<br />

para a demanda de mão-de-obra – de braços para a lavoura –, acrescentaram-se as virtudes<br />

civilizatórias associadas aos modelos de imigrantes solicitados, isto é, o comportamento e<br />

as presumíveis vantagens simbólicas dos imigrantes europeus. Em terceiro lugar, mediante<br />

a recepção dos trabalhadores europeus pretendeu-se efetuar, paralelamente, o<br />

branqueamento da população nacional.<br />

A posta em prática dos projetos eugenísticos para a alteração da idiossincrasia dos<br />

brasileiros e da sua aparência cromática foi comentada por Stefan Zweig em Brasil, país do<br />

futuro, publicado em 1941. Zweig observara as políticas implementadas pelo Estado Novo<br />

para a aceleração do processo assimilador dos imigrantes e para a nacionalização das<br />

atividades educativas e culturais que eles promoviam 61 . Ele admirou os efeitos conseguidos<br />

em prol do fortalecimento da identidade nacional brasileira:<br />

Mais uma vez, no fim, do século dezenove se cumpre a mais íntima lei do desenvolvimento do<br />

Brasil, a saber, que este, facilmente seduzido pelo lucro monetário dum produto principal, tem<br />

sempre necessidade de uma crise, a fim de se transformar, e que com isso todas essas crises cíclicas<br />

de todo o seu desenvolvimento verdadeiramente lhe foram mais favoráveis do que nocivas. A última<br />

grande transformação a que o Brasil foi forçado, não foi a vontade do mercado mundial que lha<br />

impôs e sim sua própria vontade, pela lei de 1888 que aboliu definitivamente a escravatura. [...] Essa<br />

imigração de quatro e cinco milhões de brancos nos últimos cinqüenta anos importa num acréscimo<br />

de energia para o Brasil e ao mesmo tempo lhe proporciona uma imensa vantagem no ponto de vista<br />

da civilização e da etnologia. A raça brasileira, que, por uma importação de negros durante três<br />

séculos, está ameaçada de se tornar cada vez mais escura, cada vez mais africana, clareia<br />

visivelmente, e o elemento europeu, em oposição ao elemento, primitivamente crescente, de escravos<br />

analfabetos, eleva o nível de civilização. [...] Com admirável celeridade, graças à especial energia<br />

assimiladora deste país, os novos elementos se adaptam ao meio, e a geração seguinte coopera já, de<br />

maneira natural e com igualdade de direitos, para a realização do velho ideal dos primeiros tempos<br />

61 A admiração de Stefan Zweig pelo planejamento e pela execução das medidas políticas criadas ao longo da<br />

década de 1930 pelos governos do presidente Getúlio Vargas é patente no seguinte comentário: “Um ano na<br />

era atual, de Getúlio Vargas, pode produzir mais do que pôde fazê-lo um decênio no tempo de D. Pedro II, ou<br />

um século no tempo de D. João VI. Quem hoje vê a rapidez com que crescem as cidades, melhora a<br />

organização e se transformam as energias potenciais em efetivas, sente que – em completo contraste com o<br />

que se dava anteriormente – a hora tem aqui mais minutos do que na Europa” (Zweig, [1941] 1960: 107).<br />

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