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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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muito intensa e cosmopolita durante a sua juventude, é “galega até a medula dos ossos e<br />

tudo na sua casa tem o sabor da terra natal” (Las Casas, 1938: 41). Faz-se amigo dela e<br />

conversam muito. Na casa de Dona Glória Fernando observa que ela combina o consumo<br />

de produtos exóticos para matar saudades das suas viagens – rum de Jamaica, doce de<br />

abacaxi, marrasquino de Zara e cigarros turcos – com rendas de Camarinhas, baixela de<br />

Sargadelos, toalhas de linho de “Padron”, pratas de Compostela e tapetes de Jubia (Las<br />

Casas, 1938: 41). Aos 4 de dezembro, Fernando e Luiz visitam uma outra casa fidalga – a<br />

de “Casaldereito” –, na qual se hospedaram “o marechal Moore e uma noite a alourada e<br />

sempre peregrina duquesa de Gevreuse” (Las Casas, 1938: 43)<br />

Os passeios que Fernando dá pelos arredores geram também uma disquisição,<br />

anotada no diário aos 29 de novembro, acerca dos caminhos seguidos por campos de vinhas<br />

(“Os caminhos parecem costelas de um gigantesco esqueleto insepulto” Las Casas, 1938:<br />

33). Logo de mencionar uma percepção de Ortega em relação aos caminhos castelhanos<br />

(“Ortega Gasset sentiu a dor dos pobres caminhos castelhanos cortados violentamente pela<br />

via férrea”), assinala que a angústia do filósofo poderia ainda ser maior se chegasse a<br />

conhecer os caminhos galegos que ele vê: [Ortega] “não viu estes probrezinhos caminhos<br />

galegos, mortos de fadiga, que sobem e descem de um lado para outro, como mendigos<br />

desventurados, e que no inverno ficam sozinhos, olhando-se de longe, sem se poderem<br />

auxiliar mutuamente, nem tão sequer dar-se abrigo” (Las Casas, 1938: 33-34). Aos 4 de<br />

janeiro do seguinte ano (Las Casas, 1938: 80), cita e Eugenio D’Ors devido à classificação<br />

que este fizera dos povos mediante os critérios de inteligência, vontade e memória e expõe<br />

que, pessoalmente, considera mais exata uma agrupação da humanidade, atendendo a<br />

razões climáticas, “em zonas geladas, tórridas e tropicais, povos de deserto e de<br />

montanha...”, pelo qual gostaria de poder escrever, algum dia, um ensaio sobre “os povos<br />

da névoa”, cujo assunto esboça como se segue:<br />

Passamos o dia envoltos em névoa; penso que ela é que fez nosso caráter e dou rumo às nossas<br />

expressões mais singulares. Como a névoa somos chorosos, mornos, vagos, imprecisos; por ela<br />

somos o povo dos estilos curvos e amplos: o românico e o barroco. A névoa explica que o gótico<br />

nunca se enraizara na Galiza, e que entre as nossas gentes nunca se desse o tipo do conquistador.<br />

Levamos dentro longas teorias de idéias, ainda o campônio mais pobre está enriquecido de mundos<br />

imaginativos, mas somos incapazes de concretar, de definir, de sintetizar.<br />

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