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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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A história do conto é muito simples. O avô do autor – um menino analfabeto –<br />

partiu sozinho da sua aldeia galega e fez a viagem até Santos sob a tutela de um vizinho da<br />

sua aldeia, que emigrava junto à esposa e os seus cinco filhos pequenos 290 . Esse menino<br />

levava como bagagem uma calça, uma camisa, um par de meias e um capote e, após<br />

desembarcar em Santos, foi empregado por uma fazenda paulista para trabalhar na lavoura<br />

do café e cuidar de cavalos. Havendo economizado, deixa a fazenda e instala-se na cidade<br />

de São Paulo, no bairro industrial do Brás, ocupado, sobretudo, por imigrantes italianos,<br />

espanhóis e portugueses; lá ele dedica-se a entregar mercadorias em uma carroça que<br />

comprara. De forma autodidata, e com a ajuda de um velho espanhol, aprende a ler e a<br />

escrever. A sua dedicação ao trabalho, rende-lhe fama e a confiança da freguesia, o qual<br />

permite-lhe receber mais pedidos, aumentar os lucros e adquirir mais carroças, até acabar<br />

proprietário de uma companhia de transportes que empregava espanhóis recém-chegados.<br />

O seu sucesso, e os empréstimos de dinheiro que ele fazia a conterrâneos, deram-lhe<br />

respeito entre a comunidade de imigrantes espanhóis. Logo de alcançar uma posição<br />

econômica e social de respeito, casa que uma espanhola – Aurélia –, a avó do autor e, para<br />

aumentar os rendimentos, compra dois lotes no mesmo bairro de Brás, onde constrói seis<br />

casas, passando a residir em uma delas e alugando as restantes. Tiveram três meninos e<br />

uma menina, ela falecida aos três anos, que foram deliberadamente educados como crianças<br />

brasileiras. Os três meninos estudaram; dois deles, contabilidade, e o caçula graduou-se em<br />

medicina. Comenta o autor:<br />

Meu avô era tão agradecido ao Brasil, que proibiu minha avó de ensinar espanhol ao meu pai e aos<br />

irmãos dele:<br />

– Esses meninos são brasileiros. Se aprenderem espanhol, podem acabar voltando para a Espanha e<br />

morrer na guerra (Varella, 2000: 8).<br />

290 O conto tem caráter biográfico em relação ao avô de Varella. Em um artigo de opinião, intitulado A deusa<br />

da juventude e a irresponsabilidade (de um) profissional, Varella referiu-se ao seu avô galego, pela linha<br />

paterna, como se segue: “Em 1900, meu avô veio sozinho da Espanha. Tinha 12 anos quando desembarcou no<br />

porto de Santos atrás de trabalho para sustentar a mãe viúva e os irmãos pequenos, numa aldeia da Galícia.<br />

Naquele tempo, as crianças saltavam da infância para a vida adulta num piscar de olhos; não existia<br />

adolescência. Talvez a explicação para passagem tão brusca fosse a modesta expectativa de vida do início do<br />

século passado, que mal chegava aos 40 anos, mesmo nos países mais desenvolvidos da Europa”. Disponível<br />

em: . Acesso em: 1 fev. 2008.<br />

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