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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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ocultada por ele mesmo, que decidira assumir a imagem e o comportamento de um<br />

vagabundo na década de 1950 90 . No seu retrato misturam-se os traços de um adail da<br />

contracultura com os de um excêntrico estrangeiro individualista, solteiro, sem visto de<br />

permanência, sem residência fixa e sem profissão, que sobrevive com o que recebe da<br />

venda de uns folhetos que continham máximas e reflexões com a sua apologia de um modo<br />

de vida libertário e panteísta. O diário O Globo publicara em 16.04.1953 (López, 1955:<br />

137) uma resenha sobre esse estrangeiro não-trabalhador, intitulada “Desencantos e<br />

amarguras de um filósofo...”, em que se destacava que Rafael López chegara ao Brasil,<br />

procedente da Espanha, havia quatro anos, onde “não se sabe se movido por dificuldades,<br />

se por desencanto desta vida”, fundara uma filosofia de moldes panteístas. O jornal paulista<br />

Última Hora, em 20.05.1953, na notícia “Viveu na floresta amazônica e é inimigo fidagal<br />

do trabalho”, acrescentou que esse estrangeiro, de 37 anos, chegara moço ainda ao Brasil, à<br />

cata de aventuras e percorrera a pé a América do Sul. À pergunta de se alguma vez<br />

trabalhara, ele respondeu: “nunca trabalhei e jamais trabalharei. Considero o trabalho uma<br />

coisa indigna, uma verdadeira exploração” (López, 1955: 138). Em outra notícia sobre o<br />

“filósofo da selva”, desta vez do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, publicada em<br />

16.09.1954, destaca-se que “Rafael Lopes, ou melhor, o ‘Filósofo da Selva’, é um<br />

refugiado espanhol que há anos vive nesta capital, cavando, como muitos outros, a sua<br />

vida” (López, 1955: 144). Esse estrangeiro, um suposto grande conhecedor, por meio de<br />

constantes travessias, da América Latina, recorre à sua experiência na selva amazônica e<br />

aos aprendizados entre os indígenas dos Andes para respaldar a sua refutação da civilização<br />

moderna. Na recopilação de algumas das suas folhas volantes intitulada Páginas cínicas,<br />

publicada pela editora anarquista Germinal, López expõe como se podia viver, sendo feliz,<br />

sem trabalhar, e critica comicamente a entrega ao trabalho dos imigrantes europeus<br />

obcecados pela ganância:<br />

São Paulo<br />

90 Rafael López faz questão de ocultar as suas origens, as quais, segundo ele, além de não serem relevantes<br />

para os seus leitores, amparam, como exemplo negativo, a posição em que ele trata de se manter e as decisões<br />

que tem tomado. Em “Minha família”, Lopez (1955: 65) declara o seguinte: “Onde nasci, se sou solteiro,<br />

como me chamo? Que interessa? O valor do escritor está na cabeça, não em outra parte. Começo por meu pai.<br />

Foi um imbecil. Com seu trabalho enriqueceu a outros e morreu. Pobre coitado! Tenho pena dele! Sua mulher<br />

parecia uma porca, pois teve quatorze filhos. Todos saíram rústicos: trabalham muito. O único sábio sou eu,<br />

que jamais quis trabalhar, pois, como dizem os argentinos, do trabalho vive qualquer um. O mérito está em<br />

viver sem labutar! A maioria de meus irmãos casaram-se. Eu não desejo casar-me. Seria uma desgraça: ter de<br />

trabalhar para a meia laranja. Isso revolta-me. Agarrem outro, que não a mim.”<br />

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