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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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visitante estrangeiro que almeja a compreensão positiva daquilo que contempla com o<br />

intuito de revelar uma descrição nítida de uma realidade que ele julga desconhecida para os<br />

seus leitores. Essa atitude exige que ele evite mencionar que o que ele enxerga já fora<br />

examinado com anterioridade por outros viajantes. Assim, o que ele vê é apresentado como<br />

uma realidade inédita ou, quando menos, escassamente conhecida para os seus possíveis<br />

leitores, supostamente devido à ausência ou à escassez de literatura centrada nesses alvos.<br />

O autor de livros de viagens, para legitimar o seu produto, evita aludir, sempre que<br />

possível, à existência de um basto repertório bibliográfico prévio. A sua visão perante o<br />

paraíso, ou perante o horror, ou a normalidade, do espaço estrangeiro e dos campos sociais<br />

estrangeiros assemelha-se, desse modo, à do descobridor deslumbrado pelas terras virgens<br />

que percorria. Esse autor, além do mais, com freqüência não enxerga, caso os haja, os seus<br />

patrícios que, ou bem se encontram no exterior na mesma qualidade que ele, ou bem<br />

109 Da cidade de São Paulo, a capital “donde todo es motivo de asombro o admiración”, Daglio (1951: 65)<br />

afirma: “Dicen que esta ciudad, entregada frenéticamente al trabajo, tiene el corazón endurecido como el<br />

cemento con que, orgullosa, construye sus gigantes babilónicos. Pero no es verdad.” Essa enunciação está na<br />

abertura do capítulo Semana Santa de San Pablo, no qual resenha a fé que os paulistanos mostravam durante<br />

as celebrações da Semana Santa que passou na cidade. Ele não especifica o referente do sujeito do “Dicen”;<br />

isto é, prefere deixar no anonimato os responsáveis, anteriores a ele, pelos pareceres sobre o modo de vida em<br />

São Paulo. No entanto, estabelece um elo com os viajantes que também estiveram na cidade, observando os<br />

atos da Semana Santa, durante os mesmos dias que ele permaneceu nela: “El viajero que tuvo la suerte de ver,<br />

en esta Semana Santa que acaba de transcurrir, las diversas manifestaciones de fe del pueblo paulista, vio algo<br />

grande e inolvidable” (1951: 65). Desse modo, ele descarta, por equívocas, as impressões expostas em relação<br />

à falta de sentimentos religiosos na capital paulista que antecedem às suas e estabelece, por meio da sua visão,<br />

a qual há de ser compartilhada pelos viajantes contemporâneos a ele, a inflexão na apreciação da<br />

espiritualidade do povo paulistano: “Ayer, yo vi a este pueblo inmenso llorar por la muerte de un Dios; yo lo<br />

vi gemir, sacudido de sollozos, por el dolor de una santa madre atribulada; yo lo vi rezar, arrastrándose de<br />

rodillas, con el alma en duelo y afligido el corazón. Las misas a las que asistí en las diversas y magníficas<br />

iglesias de San Pablo fueron pomposas ceremonias rituales que sólo tienen parangón con las famosas misas<br />

cantadas de Semana Santa en Roma o Sevilla” (1951: 65). Para Daglio, o povo paulistano, além de ser<br />

piedoso, celebrava a sua fé com pompa e esplendor nos ofícios da catedral de Santa Efigênia e nas procissões<br />

no Largo do Paissandu. Ele expressa a admiração e o deslumbramento que lhe causara o Mosteiro de São<br />

Bento, cuja beleza externa e cuja primorosa e luxuosa estética interna (“¡Qué orgía de decorados!” Daglio,<br />

1951: 69) contrastam, no seu parecer, com a balbúrdia urbana da praça em que se encontra o mosteiro: “Esa<br />

situación paradójica es de un irritante y tal vez irreverente contraste. Esa plazoleta es punto terminal de<br />

innúmeras líneas de tranvías y de ómnibus. Los edificios que la rodean son en su totalidad casas de comercio,<br />

provisiones, bares, cafés, kioscos de diarios, vendedores de frutas, sin contar el enjambre de lustra-botas y<br />

“canillitas” que pululan en su centro, bajo los árboles” (Daglio, 1951: 68). Uma procissão noturna pelo Largo<br />

do Paissandu leva o autor a traçar uma comparação com, supostamente, o quadro Doña Juana la Loca (1877),<br />

de Francisco Pradilla y Ortiz: “Contemplada de lejos, aquella fantasmagórica procesión nocturna, moviéndose<br />

difusa entre los velos impalpables de la “garoa”, recordaba aquel alucinante cuadro que representa a “Juana la<br />

Loca” acompañando y haciendo seguir por toda la Corte a través de las llanuras hostiles de Castilla, el cuerpo<br />

ya putrefacto del rey, su bien amado. Pero aquí, la reunión inmensa de fieles impelidos por un sentimiento de<br />

puro amor cristiano, tiene un significado más hondamente humano. No es el dolor lancinante de una amante<br />

enloquecida e inconsolable por haber perdido el objeto de su pasión; no. Era un dolor colectivo, el angustioso<br />

sentimiento de todos los hombres por el divino sacrificio de Cristo” (Daglio, 1951: 67).<br />

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