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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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quimera da reunião, em poucos anos, de uma fortuna com a qual o imigrante espanhol<br />

pudesse retornar ao seu país para acometer alguma empresa econômica sem ter que acatar<br />

os desígnios de um patrão. Face à impossibilidade do regresso vitorioso e perante a<br />

conseguinte necessidade da adaptação às características do modo de viver nas zonas<br />

isoladas da Alta Sorocabana e de Sorocaba, os imigrantes espanhóis aculturavam-se. A<br />

progressiva adaptação aos costumes e às normas do interior paulista manifesta-se<br />

explicitamente no romance nas esferas lingüística, habitacional, gastronômica e, inclusive,<br />

na inter-relação étnica.<br />

Ao longo dos anos transcorridos na fazenda Bofete – primeiro núcleo de<br />

povoamento da colônia espanhola da qual faz parte a família de Raboné –, os desiludidos<br />

espanhóis resignam-se à desolada realidade do seu destino e assumem a necessidade do seu<br />

ajustamento à acomodação que lhes oferecem e às condições de trabalho nas fazendas<br />

paulistas. Nessa decorrência assiste-se à harmonização com a língua portuguesa, à<br />

introdução, pelos imigrantes, do pão de trigo e do recheio de cebola e tomate frito na<br />

prática alimentícia da fazenda e ao alargamento das relações sociais dos estrangeiros, que<br />

estabelecem um contato estreito com os nativos. Face à necessidade de vencer o limitante<br />

marco corporativo da vida na colônia agrícola, o pai de Raboné conclui que devem fazer o<br />

possível para irem morar nas proximidades de um núcleo urbano, onde haja comércio e<br />

seus filhos possam receber uma educação regulamentada que lhes permita “ler escrever e<br />

contar em brasileiro”.<br />

Acreditamos que o romance autobiográfico Raboné, de Colono a Professor carece<br />

de fortuna crítica. Nem nos estudos sobre a imigração espanhola, nem em compêndios<br />

bibliográficos da literatura brasileira, foram localizadas referências ao romance. Todavia, a<br />

obra consta no acervo das grandes bibliotecas públicas paulistas e cariocas 288 .<br />

as suas passagens. Este dado redunda na premissa da falta de recursos econômicos acerca das motivações da<br />

eleição do Brasil como país de destino para os imigrantes espanhóis.<br />

288 Na segunda orelha da sobrecapa do livro informa-se que o Centro do Professorado Paulista – entidade<br />

promotora da edição – empenhou-se em lançar a narrativa autobiográfica do, por então, octogenário Prof.<br />

Raimundo Pastor para dar continuidade a uma anterior obra, Alegria, Agruras e Tristezas de um Professor<br />

(1970) na que o educador expunha as suas memórias do magistério no Vale do Ribeira, nos anos que<br />

mediaram entre 1919 e 1926. Explicita-se que, com ambas as publicações, o Centro do Professorado Paulista<br />

visava projetar os valores da docência e promover os educadores, e que tanto Raboné de colono a professor<br />

quanto Alegria, Agruras e Tristezas de um Professor teriam sido escritas “há várias décadas”, encontrado-se<br />

os originais sob a custódia do autor. Não é possível afirmar que se o lançamento de Raboné obteve alguma<br />

repercussão. Não obstante a ausência de fortuna crítica para Raboné, Moraes (1996) incorporou Alegrias,<br />

Agruras e Tristezas de um Professor à documentação selecionada em sua dissertação de mestrado com vistas<br />

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