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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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tanto a cogitar na possibilidade de deixar Názara, quando, a meados de agosto, Luiz parta<br />

para Londres, e assentar-se na sua “quinta” de Trasdeza – anotações de 26 de junho – 576 ,<br />

quanto a pensar no casamento com Maria José – anotações de 28 de junho –. Nesse sentido,<br />

ele assume a disjuntiva de casar ou ir embora e retomar o seu modo de vida de viajante<br />

cosmopolita:<br />

Devo casar-me com Maria José? Não será melhor fugir, da noite para a manhã, e voltar às minhas<br />

galopadas pela Europa adiante? América! Tenta-me a América. Sonho com as vermelhas arquiteturas<br />

astecas, com a luz deslumbrante do Rio de Janeiro, com as misteriosas antiguidades incas... Quero<br />

bailar sambas no ardor luxurioso da Baía e ver dançar rumbas na sombra espessa das bananeiras<br />

cubanas; quero tremer de frio no Aconcagua e desvairar-me na fogosa policromia do Amazonas (Las<br />

Casas, 1938: 137-38).<br />

Aos 6 de julho (Las Casas, 1938: 138-39) escreve que se decidira a ir até a sua<br />

quinta de Trasdeza e narra como foi o emocionado reencontro com a sua propriedade, o<br />

qual o fez evocar uns versos do seu “chorado amigo Marquês de Torres Cabrera”. Na<br />

narração menciona que os salões do prédio estavam vazios e que a quinta tinha capela; nela<br />

encontravam-se as sepulturas dos seus antepassados, alguns dos quais ele menciona – “um<br />

que combateu na Itália contra Francisco I”, um “vice-rei da Venezuela”, um “bispo do<br />

Chile”, “outro” que “sucumbiu na defesa de Astorga lutando contra as tropas bonapartistas”<br />

– um carlista –, referindo-se mais extensamente, pelos remorsos que sente, no seu avô:<br />

e eu o deixei morrer sozinho, totalmente só, entretanto meu pai estava no seu consulado de<br />

Alexandria e eu farreava tranqüilamente em Paris. Somente os criados presenciaram a sua agonia,<br />

resignada e piedosa, como a de um ermitão. As suas últimas palavras foram ditas para mim... e eu<br />

rompi a carta onde o criado mas contava (Las Casas, 1938: 139).<br />

Dias após – 22 de julho (Las Casas, 1938: 145-46) – Fernando escreve que estivera<br />

imaginando como seria o seu modus vivendi no dia-a-dia em Trasdeza. Indica que dedicaria<br />

as manhãs às lavouras do campo, as tardes a passear com Maria José e as noites a ler.<br />

Disporia com sobriedade o salão, onde só haveria o retrato do seu avô, uma escrivaninha,<br />

576 Sobre a quinta de Trasdeza, Fernando escreve que lá só passara dois ou três verões sendo criança, junto ao<br />

seu avô. Ela levava mais de trinta anos aos cuidados de um administrador, a quem Fernando diz não conhecer.<br />

E acrescenta: “Meu pai esteve lá uma semana, quando recebeu a herança, e eu nem me tomei ao trabalho de<br />

visitá-lo quando, por minha vez, a herdei de meu pai. Quem poderia estar em Trasdeza estando em Berlim ou<br />

em Londres? Agora anseio visitar o venerável solar da minha casta, um severo palácio construído pelo conde<br />

de Montouto em 1648. Vejo-o, como em sonhos, entre uma névoa espessa que esvai os perfis e dá contornos<br />

imprecisos. Tenho uma vaga idéia que tem uma torra muito alta, cheia de morcegos, uns ciprestes fortes como<br />

castelos e agudos como dardos, e uma varanda de granito, muito larga, onde os criados punham a secar o<br />

milho” (Las Casas, 1938: 137).<br />

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