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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Capital da Itália e também da antipatia e grande traganíqueis, S. Paulo parece um formigueiro: Só se<br />

trabalha!<br />

Ai, dói-me a barriga!<br />

Pouco amor se faz! Conversa-se pouco e corre-se muito!<br />

O fito da cidade é o lucro. Os bares da Avenida São João não têm cadeiras: a gente come em pé,<br />

como os cavalos.<br />

Os italianos falam com as mãos cheias de pizza e Chiante.<br />

Os insípidos doces árabes abundam e os japoneses também.<br />

Os burros de trabalho europeu correm muito e fazem bem, pois para isso os tiraram da Europa.<br />

Na rua Aimorés as rameiras estão enjauladas.<br />

Fala-se em proibir a prostituição.<br />

Que hipocrisia! A Natureza não fez meretrizes, e sim a civilização dos calos (López, 1955: 95-96).<br />

A visão de desprezo de Rafael López em relação aos imigrantes italianos alienados<br />

pelo trabalho apresenta-se como uma radicalização da exposta no Estado de São Paulo, em<br />

oito reportagens, quase trinta anos antes, a respeito dos imigrantes, na capital paulista, de<br />

diversas procedências, por Guilherme de Almeida.<br />

Um desses textos, de 21 de abril de 1929, intitulado Um carvão de Goya, fora<br />

dedicado às observações feitas em um passeio vespertino pela rua Santa Rosa, na capital<br />

paulista, onde residia uma colônia de imigrantes espanhóis 91 . Em um aparte da prosa,<br />

Guilherme de Almeida (1962: 59) retrata os trabalhadores dos armazéns dessa rua como<br />

“homens em mangas de camisa transpirando dinheiro”. O efeito alienante do trabalho sobre<br />

os imigrantes também é transmitido, no seguinte trecho, por Almeida:<br />

E, dentro desse silêncio comercial, vão chegando e vão passando uns homens do trabalho, lerdos,<br />

abobalhados, inexpressivos como motores parados. Não dizem nada. Que homens são esses, que vão<br />

chegando e vão passando? De que pátria fugiram? Que música estrangeira terá a sua fala?<br />

(Almeida,1962: 60).<br />

O “Filósofo da Selva” reivindica a vagabundice como modo de vida em qualquer<br />

lugar. Para ele (López, 1955: 116), o vagabundo “é um anônimo revolucionário, que não<br />

trabalha, para evitar que outrem se enriqueça com seu esforço. É inimigo dos tiranos. Estes<br />

querem trabalhadores otários para sustento de sua plutocracia”. Em Páginas cínicas<br />

comenta-se que o escárnio contra o sentido do trabalho, acrescentado de múltiplas<br />

invectivas contra as religiões, contra as ideologias e contra o campo da cultura e, em geral,<br />

contra tudo o relacionado com a infra-estrutura econômica e as construções simbólicas da<br />

91 Essa reportagem foi incluída no volume Cosmópolis (Almeida, 1962).<br />

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