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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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também das características da cultura prévia dele que foi reedificada e instalada no país que<br />

o recebeu.<br />

O espaço do imigrante<br />

A respeito da constituição das condições de existência na imigração, no capítulo O<br />

lar dos sem-família de A imigração ou os paradoxos da alteridade (Sayad, 1998: 73-103),<br />

Sayad analisa a função desempenhada pelo alojamento no enquadramento do trabalhador<br />

estrangeiro na sociedade de imigração. Sayad considera que a percepção da condição do<br />

imigrante depende das representações que se formem sobre o modo de vida do imigrante.<br />

Desse modo de vida fazem parte, sobretudo, as características dos trabalhos ocupados e a<br />

habitação. A habitação do imigrante não é só, segundo ele, a sua moradia, senão que é<br />

também uma “verdadeira projeção das categorias com as quais se define o imigrante e com<br />

as quais se delimita seu espaço social, revela a idéia que se tem do imigrante e que<br />

contribui para criar o imigrante”.<br />

Assim, o imigrante, como trabalhador pobre indefinidamente provisório, ocupa<br />

temporariamente, mas durante prazos indeterminados, vivendas cujos únicos propósitos são<br />

o de proporcionarem um lugar para descansar após o trabalho da jornada e o de servirem<br />

para cozinhar, quando há tempo para o preparo de refeições domésticas e quando o custeio<br />

delas é mais barato que o consumo de comidas em um estabelecimento público. O<br />

imigrante tenta evitar qualquer gasto em comodidade e em decoração amparado na ilusão<br />

de que a sua residência só se prolongará por um período breve e de que o sentido da sua<br />

estadia no exterior é a acumulação e a remissão de poupanças. Isso lhe permitirá dissimular<br />

a precariedade que o rodeia e se sentir contente com uma habitação degradada e<br />

degradante, que é qualificada como uma habitação apropriada para ele devido à sua<br />

circunstância. Nesse sentido, poder-se-ia traçar um paralelismo com a habitação ocupada<br />

por um estudante solteiro e pobre que não é protegido por políticas públicas<br />

assistencialistas, mas a diferença entre ambas as situações radica em que, frente ao estatuto<br />

temporário do estudante, com freqüência o imigrante deixa de ser um trabalhador<br />

provisório enquanto a sua habitação continua sendo provisória.<br />

No Brasil, ao começar a grande imigração, no início da substituição da mão-de-obra<br />

escrava nas fazendas paulistas, as famílias que assumiram a labuta na cafeicultura<br />

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