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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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desolado em que acontece a batalha inserindo referências a pontos da geografia<br />

brasileira 355 :<br />

O terreno é rudemente acidentado e faz-me lembrar essa zona que vai de Cruzeiro a São Lourenço ou<br />

de Antonina a Curitiba, com a diferença de que aqui o terreno é desoladamente nu, as abas das<br />

montanhas semeadas de rochas e as planícies ou, melhor, os vales são steppes que desanimam o<br />

turista. Para quem desce, aliás, de Valladolid para a capital espanhola, o panorama aborrece, de tão<br />

chato e despido. Na montanha, as estradas coleiam caprichosamente, estas maravilhosas estradas<br />

construídas ou concertadas quando da ditadura de primo de Rivera (Soares d’Azevedo, 1936: 63-64).<br />

Soares desloca-se de carro à Serra do Guadarrama para a realização da reportagem.<br />

Lá descreve as posições ocupadas pelas tropas do governo e pelos sublevados e observa que<br />

há um impasse na frente. Destaca também uma característica dos milicianos; percebe que,<br />

apesar de eles não terem instrução militar, são valentes e de uma temeridade rara: “Os<br />

milicianos avançam a peito descoberto, sabendo que marcham para a morte. [...] Morrem,<br />

mas os que lhes vêm atrás os substituem pulando por cima dos cadáveres dos companheiros<br />

e avançando sempre até por sua vez serem dizimados” (Soares d’Azevedo, 1936: 67-68).<br />

De regresso do Guadarrama, acolhe-se de novo na Embaixada do Brasil em Madri; sente<br />

(Soares d’Azevedo, 1936: 73) que: “Urge uma parada nesta enervante rota batida” e<br />

informa que traz “os nervos em petição de miséria, os olhos turvos, o coração em<br />

palpitações desordenadas”. Durante essa nova parada na Embaixada do Brasil decide deixar<br />

a Espanha por motivos de segurança, pois entende que a sua condição de jornalista católico<br />

supõe a sua condena a morte no território controlado pela II República. A crônica dos<br />

últimos dias que passa na Embaixada contém a única descrição que conhecemos do interior<br />

dessa repartição. Chama a atenção o descaso do autor com o perigo que poderia supor o<br />

conhecimento dos dados que ele revela, ainda em 1936, a respeito do funcionamento da<br />

Embaixada e da atitude e do posicionamento ideológico dos diplomatas brasileiros ao seu<br />

cargo. Ou bem esses dados não foram considerados relevantes por parte do DIP, ou bem se<br />

acreditava que não poderia chegar à Espanha republicana o conhecimento dessa obra ao ser<br />

355 A dedicação de Soares à composição de reportagens sobre o desenvolvimento da guerra civil não lhe<br />

impede lavrar apreciações alheias ao conflito armado. No capítulo 7º – Noites de insônia – comenta (Soares<br />

d’Azevedo, 1936: 84) como são os horários na Espanha, comparando-os com os brasileiros: “O espanhol tem<br />

costumes que nós outros, brasileiros, não aturamos. Levanta-se invariavelmente às nove ou dez horas, almoça<br />

à três, janta às vinte e uma e farreia noite a dentro. O comércio abre às nove e encerra-se às treze e meia, todo<br />

ele, para reabrir às dezesseis e meia e fechar de novo às vinte. Durante uma boa parte do dia, portanto, Madrid<br />

apresenta-se sem vida nas ruas. Almoça-se e dorme-se. As leis socialistas querem que os operários trabalhem<br />

pouco afim de que os patrões se vejam na contingência de admitir maior número deles”.<br />

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