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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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sentido, Carvalhal põe o comunicado de Henrique Galvão acima transcrito como exemplo<br />

de que a única organização anti-salazarista, vinculada a Delgado, cabal e eficiente na<br />

América do Sul era a Associação General Humberto Delgado do Rio de Janeiro.<br />

O desentendimento de Delgado com Galvão, quem, supostamente sem o beneplácito<br />

de Delgado, e na sua ausência, o teria nomeado co-diretor do DRIL, as posteriores<br />

declarações de Delgado desdizendo-se em relação ao seu envolvimento no seqüestro do<br />

Santa Maria, operação da qual declarara, em um primeiro momento, estar cônscio, a rixa<br />

pública entre Galvão e Velo, e o afastamento entre este e Sotomayor, contribuíram à<br />

confusão em relação ao entendimento do que era o DRIL – a sua ideologia, as suas ações<br />

anteriores, a sua hierarquia, a sua composição, os seus objetivos –. Além disso, enquanto<br />

Velo 328 optou pela discrição, evitando prodigalizar comunicados políticos e testemunhos<br />

sobre a gênese do DRIL e sobre o seqüestro do paquete, Galvão destacou-se pela profusão<br />

de manifestos anti-salazaristas, crônicas dos atos cometidos pela oposição e hagiografias<br />

pessoais, almejando, por um lado, se impor, perante a opinião pública, como chefe único do<br />

DRIL e, portanto, como o principal organizador e executor do seqüestro do Santa Maria, e,<br />

por outro, rivalizar com o general Delgado na coordenação, no Brasil, da oposição contra o<br />

Estado Novo português. Essa circunstância – a relevância pública adquirida por Galvão e a<br />

simultânea, em parte voluntária, em parte forçada, marginalização de Velo –, unida ao<br />

Santa Maria ser um navio da Companhia de Navegação Colonial portuguesa, permitiu à<br />

imprensa espanhola a apresentação do seqüestro como um ato de pirataria dirigido e<br />

executado pela oposição portuguesa, alheio à Espanha, apesar da participação, na ação, de<br />

uns poucos espanhóis, que, no entanto, afetou à Espanha, por terem sido prejudicados os<br />

imigrantes espanhóis embarcados que regressavam à sua pátria 329 . O paradigma do<br />

328 Por sua vez, os codinomes adotados por José Velo Mosquera desembocaram na mistificação, intencionada<br />

ou fortuita, sobre a sua identidade causada pelos jornalistas, brasileiros, portugueses e espanhóis, que<br />

cobriram a terceira operação do DRIL. A ele referiram-se como o professor Velo, Belo ou Bel, como<br />

Junqueira de Ambia ou, inclusive, embora com muita menor freqüência, como Jurado A, não relacionando, às<br />

vezes, esses nomes entre si.<br />

329 A imprensa de Madri desprezou a participação espanhola na Operação Compostela e silenciou tanto a<br />

presença do comandante Sotomayor quanto a chefia de Junqueira de Ambía. Houve um evidente interesse em<br />

vincular, só, o seqüestro do Santa Maria à oposição portuguesa anti-salazarista. Os espanhóis unicamente<br />

eram mencionados como passageiros e tripulantes do navio e assinalou-se o refúgio do navio em Recife e o<br />

assilo aos comados no Brasil como um problema bilateral entre Portugal e o Brasil. A seguir, relacionamos as<br />

notícias sobre o caso que a Embaixada do Brasil em Madri, por meio do cônsul João Cabral de M. Neto,<br />

remeteu ao Itamaraty, no Rio, entre fevereiro de 1961 e maio de 1965. Indicamos o título da matéria, o jornal<br />

e a data. São estas: 1. Los pasajeros del “Santa María” reclaman la intervención de las autoridades brasileñas<br />

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