26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

solução receba a sanção desde a legalidade. Todorov acredita firmemente que, com<br />

moralidade, justiça e razão, a aculturação na civilização – uma civilização que admita a sua<br />

avaliação e a modernização – harmonizará a humanidade e conduzi-la-á à liberdade e à<br />

autonomia que é proporcionada pelo conhecimento. De forma deliberada, o intelectual<br />

búlgaro faz apologia de uma cultura dominante, embora não subjugadora, que, sendo<br />

inquestionavelmente adequada pelo mérito inerente à sua natureza, amorteça os extremos e<br />

forneça o bem-estar global proposto pelo humanismo.<br />

O antropólogo italiano Massimo Canevacci, no seu ensaio Culturas eXtremas:<br />

mutações juvenis nos corpos das metrópoles, 2005, salienta (Canevacci, 2005: 15),<br />

entretanto, que desde os anos 1990 se dissolveu qualquer possibilidade de existência<br />

objetiva de uma cultura dominante, tanto quando ela se apresenta como universal, tanto<br />

quando, simplesmente, ela se transfigura em ideologia. Ele crê que a clássica dicotomia<br />

cultura hegemônica/ culturas subalternas se exauriu definitivamente, pois tais culturas se<br />

diluíram em uma série policêntrica de poderes em competição entre si.<br />

Ao não existir mais uma cultura geral unitária de caráter nacional (por exemplo, a<br />

cultura britânica) que, seguindo leis positivas universais, englobe e unifique, na sua<br />

estrutura, modelos, crenças e valores, de acordo com os seus modelos generalistas e<br />

homogeneizantes, não faz mais sentido definir, como elementos dela, determinadas subculturas<br />

(inglesa, juvenil, feminina, operária, estudantil) 128 . Do mesmo modo, também não<br />

faz mais sentido relacionar, como sub-cultura, essa cultura nacional a concepções<br />

uniformizadoras da cultura (cultura européia, ocidental). Canevacci acredita que não se<br />

pode envolver no “caráter nacional” a complexidade da cultura; esta, segundo ele, não é<br />

unificável. Diz Canevacci:<br />

Para contrastar o perigo das diferenças – vistas como desordem – a antropologia (como a filosofia, a<br />

psicologia, a sociologia, a arquitetura) estruturou-se como apologia e defesa da identidade. [...] a<br />

elaboração do “caráter nacional” favoreceu cada preconceito e reforçou cada estereótipo, levando em<br />

128 Canevacci (2005: 17) considera que não há um sentido depreciativo na expressão “subcultura”,<br />

concentrado no prefixo “sub”: “ele não indica algo que está ‘abaixo’ e, conseqüentemente, é inferior em<br />

relação a alguma outra coisa que fica ‘acima’. No emprego do termo permanece a instância cientificista de<br />

identificar, ou melhor, de recortar uma fatia comportamental caracterizada por possuir estilos, ideologias,<br />

valores homogêneos. Selecionam-se esses traços culturais, vistos como idênticos para cada estrato, e se<br />

privilegiam em relação a uma série de outros traços que os tornariam diferentes. A história da antropologia<br />

afirmou-se não apenas ao privilegiar as (supostas) uniformidades, mas também na destruição sistemática e<br />

‘objetiva’ das diferenças. São as diferenças que devem ser aplainadas para que seja possível fazer fluir o carro<br />

triunfante e cientificista de ‘a’ cultura”.<br />

220

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!