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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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pejorativas com as que se procura menosprezar os portugueses. Em decorrência disso, o<br />

“galego” converteu-se na representação negativa do imigrante português. Alencastro<br />

explica, como se segue, a gênese desse uso:<br />

Às vezes, conflitos opunham os comerciantes portugueses a seus compatriotas. No início, é bem<br />

provável que o substantivo galego tenha sido usado pejorativamente pelos próprios comerciantes<br />

lusitanos para designar os proletários portugueses entregues a tarefas similares às dos verdadeiros<br />

galegos, emigrados da Galícia, na cidade de Lisboa. Em seguida, os brasileiros denominaram<br />

“galegos” o conjunto de portugueses estabelecidos no Império. Suscitando discussões sobre o<br />

presente e o futuro dos modos de vida no Brasil, a imigração de proletários portugueses alimentava<br />

também os debates sobre o passado, o que constitui uma outra maneira de questionar o presente.<br />

Assim, O Instituto Histórico propõe um tema de pesquisa que ainda hoje incomoda uma parte da<br />

velha oligarquia brasileira: “A que classes da sociedade pertenciam os primeiros colonizadores<br />

portugueses no Brasil? De que categoria de indivíduos descendemos? (Alencastro, 1997: 312).<br />

Sérgio Miceli, em sua exposição acerca do mercado do livro e do habitus dos<br />

romancistas profissionais, estuda o caso do “galego” Francisco Alves, quem se tornou<br />

editor a partir da sua posição de livreiro. No retrato fornecido do livreiro pelo sociólogo da<br />

USP, citando-se a Medeiros e Albuquerque (1934: 135), convivem a alcunha “galego” e o<br />

gentílico “português”: “É idêntico o caso de Francisco Alves, um português ignorante, que<br />

vendia livros, como poderia vender carne-seca ou batatas, e que deixou a sua fortuna à<br />

Academia Brasileira” (Miceli, 2001: 142). Um caso extremo de exposição confusa – ou de<br />

completa ignorância – a respeito da identidade assinalada com o termo “galego” deve-se a<br />

Manoelito de Ornellas, quem, antes de comentar que o “dialeto medieval” galego era a<br />

mostra restante da língua comum que compartilharam Espanha e Portugal (Ornellas, 1956b:<br />

26-27), reproduz, para se referir ao “drama da pobreza” na Maragateria espanhola, o último<br />

dos cantos de “Pra a Habana”, nos quais, segundo Ornellas (1956b: 16), Rosalia de Castro<br />

referiu-se “à imigração dos maragatos, da terra árida e estéril onde vivem”.<br />

A relação estabelecida entre o termo “galego” e os colonizadores portugueses – os<br />

primeiros adventícios – estendeu-se semanticamente no Estado do Ceará; nele vincula-se o<br />

vocábulo “galego” a tudo o que, desprezivelmente, tem a ver com os estrangeiros. Segundo<br />

Lesser (2000: 98) “No Pará, os árabes muitas vezes eram chamados de ‘judeus’, e no Ceará<br />

eram conhecidos como ‘galegos’, um termo pejorativo para os naturais da Península<br />

Ibérica”.<br />

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