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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Em nenhum momento, Soares d’Azevedo declara que tenha tentado observar os<br />

acontecimentos com imparcialidade partindo da compreensão das causas que impeliam as<br />

partes à beligerância. Ele não pôde compreender o que acontecia porque, na sua visão, o<br />

caos que contemplava era fruto de um governo inerte e da maldade e da ignorância de um<br />

povo pervertido pelo comunismo e pelo anarquismo. De fato, tanto o título da obra quanto a<br />

sua capa – sobre um fundo preto, gotas de sangue caindo do título, em vermelho, em<br />

direção a umas chamas, da autoria de Alberto Lima – salientam que o que estava<br />

prevalecendo na Espanha de 1936 era o horror da destruição.<br />

Soares d’Azevedo publicou Espanha em sangue... ainda em 1936, no Rio de<br />

Janeiro, pouco tempo depois de haver abandonado Espanha pelo porto de Barcelona em um<br />

navio da armada italiana junto a setecentos estrangeiros de todas as nacionalidades que<br />

decidiram deixar atrás o espanto da guerra civil espanhola. Percebe-se que foi uma obra<br />

publicada com urgência, dado o presumível interesse que havia em dar a conhecer a versão<br />

de Soares d’Azevedo sobre o conflito. O jornalista desembarcara no Rio em 1 de setembro<br />

de 1936.<br />

Espanha em sangue... foi publicada pela editora Cruzada da Boa Imprensa como<br />

terceiro volume da “Bibliotheca da Intelligência a serviço dum christianismo racional”,<br />

dirigida pelo P. Dr. Huberto Rohden, autor do prefácio do livro de Soares d’Azevedo, com<br />

a epígrafe “Eis o homem que voltou do inferno” 350 .<br />

350 No Prefácio, o P. Huberto Rohden, diretor da Cruzada da Boa Imprensa, admoesta os católicos brasileiros<br />

a reagirem antes que possa acontecer com o catolicismo do Brasil a mesma desgraça havida na Espanha. Em<br />

primeiro lugar, ele assevera aos leitores que o narrado no livro pelo “homem que voltou do inferno” é “o<br />

retrato fiel da mais pura realidade” (Soares d’Azevedo, 1936: 9). Logo adverte que o Brasil é objeto de ódio<br />

pela Espanha sovietizada, outrora terra clássica do catolicismo europeu, devido às campanhas havidas em<br />

favor de Luiz Carlos Prestes. E finalmente brada pela reação dos católicos brasileiros, os que, na sua opinião,<br />

para não serem arrolhados pela “avalanche de anarchismo e indisciplina que está empolando os espíritos e<br />

assoberbando os povos”, hão de tomar o controle dos meios de comunicação que afetam os trabalhadores do<br />

Brasil para evitarem que, através deles, se possa veicular a propaganda comunista e anarquista. Eis a sua<br />

veemente reclamação: “A hora que passa é extremadamente grave – e a maior parte dos catholicos brasileiros<br />

não se compenetrou ainda da extrema gravidade da hora presente... O grosso do catholicismo nacional,<br />

sobretudo nos grandes centros, continua na sua vida carnavalesca de sempre, ‘fazendo avenida’, matando o<br />

tempo com futilidades, esbanjando fortunas em politicagem mesquinha, envenenando o espírito com leituras<br />

frívolas e enervando o corpo com orgias duma vida visceralmente pagã. Até quando durará esse estranho<br />

sonambulismo? O operariado está sendo trabalhado pelos agentes soviéticos, e não tardará a tomar conta das<br />

nossas igrejas se a Igreja não tomar conta deles... A nossa imprensa catholica nunca saiu da infância; não<br />

temos uma imprensa poderosa porque não a queremos; e não a queremos porque não estamos ainda<br />

convencidos do imenso poder dessa arma moderna. [...] E onde estão as nossas estações de radio? Não sabem,<br />

porventura os catholicos que o radio é a voz do mundo, que penetra nos palácios das metrópoles e nos<br />

tugúrios do sertão? Metade do dinheiro que as senhoras e senhoritas brasileiras gastam anualmente nas suas<br />

pequeninas vaidades pessoais seria suficiente para mantermos ao menos dez poderosos diários catholicos em<br />

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