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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Campina Grande 544 e antes de chegar a João Pessoa, depara-se com uma paisagem que lhe<br />

parece muito à Galiza:<br />

De Campina Grande a João Pessoa o campo é de uma beleza paradisíaca. Lembra-me muito a minha<br />

Galícia, que mereceu justa fama de ser o recanto mais lindo da Europa. Cá, como na minha terra, a<br />

propriedade está muito dividida e as culturas são diversíssimas, razão pela qual as perspectivas são<br />

de uma variedade de cores que deslumbra. Penso que estou na Baía ou no Salnés. As próprias canas<br />

de açúcar semelham de longe pés de milho. As árvores são frondosas, os caminhos serpenteantes, asa<br />

casas, brancas. As mulherzinhas que voltam da feira, com o cesto na cabeça, parecem irmãs das<br />

nossas “regateiras” de Padron, do Lerez, de Bastabales, de Barbantes... Vem logo o rio Paraíba:<br />

muita usina, muita fábrica, muito armazém. Nunca julguei que esta fosse terra tão rica. Enfim: o<br />

Brasil reserva uma surpresa em cada metro, e cá é preciso contar por milhões de léguas quadradas<br />

(Las Casas, 1939: 101-02).<br />

As cidades de João Pessoa e de Vitória são as capitais estaduais brasileiras mais<br />

sucintamente descritas por Las Casas. A João Pessoa dedica o Cap. VIII – Os mortos<br />

mandam, em relação à qual, no relato das suas efemérides históricas, volta a frisar o labor<br />

imperial da Espanha no Brasil durante a União Ibérica. Assim, salienta que a cidade fora<br />

fundada em dezembro 1585, por Martim Leitão, com o nome de Filipéia em homenagem a<br />

Filipe II. Las Casas crê que outras localizações teriam sido preferíveis, mas matiza que a<br />

capital não se transferiu de Filipéia “porque as gerações que lhe sucederam [a Martim<br />

Leitão] seguiram seu mandato como se uma voz celestial as dirigisse” (Las Casas, 1939:<br />

103). Como testemunhas da época colonial, o autor diz que ficaram “alguns belos<br />

palacetes” e “meia dúzia de igrejas”, sendo a de São Francisco a única em que repara com<br />

544 Em Campina Grande, Las Casas visita a feira da cidade. Ele aprecia a raridade das mercadorias que lá se<br />

compram e se vendem. Durante a sua viagem pelo Norte e pelo Nordeste do Brasil, Las Casas destaca com<br />

freqüência a qualidade dos produtos encontráveis e o baixo preço deles. Na feira de Campina Grande gosta<br />

especialmente das facas que crê com são vendidas muito baratas: “Maravilham-me as facas que aqui se<br />

constroem. São verdadeiras jóias que os ferreiros vendem a três e quatro mil réis. Um artista, já consagrado,<br />

faz preciosidades, com cabo de ouro e marfim, que se compram a oitocentos mil réis e mais. Se exportassem<br />

essas facas seriam famosas no mundo inteiro. Irrita-me pensar que no Rio gastamos duzentos mil réis para um<br />

presente, comprado em qualquer loja de turco e que não presta para nada, tendo estas maravilhas na porta da<br />

casa” (Las Casas, 1939: 100). Do início da narração da sua viagem, o autor assinala que produtos lhe<br />

parecem, comparativamente, de baixo custo. No Mercado de Manaus é a banana: “a banana que na Europa<br />

pagamos tão caro e que aqui atinge proporções enormes e preços ínfimos” (Las Casas, 1939: 28-29). Por um<br />

lado, indo, de navio, de Manaus a Belém, é um macaco o item que lhe parece barato: “Vi vender um<br />

lindíssimo macaco por dois mil réis”; por outro, indica que as orquídeas, sendo caras em Londres, podem-se<br />

pegar de graça na selva: “Meu bom amigo Hannig volta de terra com meia dúzia de orquídeas que em<br />

Londres custariam dez libras e fariam a perdição das “ladies” mais requintadas” (Las Casas, 1939: 40). Ainda<br />

durante essa travessia rumo a Belém, observa o baixo custo da madeira que é comprada como combustível<br />

para o vapor: “Por cada feixe de dez grosso paus entrados a bordo, cobram os homens vinte mil réis. Menos é<br />

impossível...” (Las Casas, 1939: 43).<br />

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