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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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podendo ser considerados, quase todos eles, como potenciais imigrantes. Produz-se, assim,<br />

uma divisão em dois, amparada na existência de sistemas socioeconômicos desigualmente<br />

desenvolvidos, que é descrita por Sayad como se segue:<br />

de um lado, um mundo dominante (política e economicamente) que produziria apenas turistas – e<br />

todo estrangeiro oriundo desse mundo poderoso, mesmo se residir em país estrangeiro durante toda a<br />

sua vida, seria tratado com o respeito devido a sua qualidade de “estrangeiro” –; de outro lado, um<br />

mundo dominado que só forneceria imigrantes, e todo estrangeiro proveniente desse mundo, mesmo<br />

se vier como turista e só permanecer durante o tempo autorizado ou o tempo atribuído aos turistas, é<br />

considerado como um imigrante virtual ou um “clandestino” virtual. A lei que deseja estabelecer, nos<br />

fatos, essa distinção, que se quer simples, entre os verdadeiros turistas e os “falsos turistas” sob os<br />

quais se escondem os falsos imigrantes, adota essa filosofia social (e política) de um mundo<br />

bipolarizado, de um mundo cindido em duas metades assimétricas e antitéticas (Sayad, 1998: 244-<br />

45).<br />

Essa divisão manter-se-á enquanto não mude a relação de dominação que a<br />

produziu e que a mantém. Por sua vez, na possibilidade de mudança reside um efeito<br />

perverso da relação de dominação. Caso se produza uma inversão nas posições ocupadas<br />

pelos dois países nessa relação, passando o país dominado a ocupar o lugar do dominante,<br />

isto é, transformando-se de país de emigração em país de imigração, os seus naturais que<br />

emigraram, se decidem deixar de serem residentes ausentes para voltar a residir onde são<br />

oriundos, sofrerão de novo a discriminação e tornar-se-ão sujeitos suspeitos de quererem<br />

usufruir uma situação vantajosa à qual não contribuíram por se terem voluntariamente<br />

ausentado.<br />

A volta e a reinserção dos alógenos aos seus países está longe de ser um problema<br />

técnico ou uma conclusão lógica, necessária e inelutável, do processo migratório. Os que<br />

decidem retornar podem perceber que o novo deslocamento encerra um aspeto vergonhoso<br />

ao sentirem que eram mais respeitados no país de imigração que no país de origem. Se a<br />

causa desse deslocamento é tentar tirar mais rentabilidade da sua força de trabalho, podem<br />

perceber que há um revanchismo do destino por ter que regressar a um território que<br />

abandonaram achando que as oportunidades econômicas e as melhores condições de vida<br />

estavam fora dele. Por sua vez, os que permaneceram, mantendo a sua interioridade, a sua<br />

endogeneidade, observam que a emigração não pára após a eliminação das condições de<br />

possibilidade que a incentivaram, senão quando se apagam da memória os aspetos<br />

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