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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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As pessoas eram presas sem saber por que: espanhóis de nova Granada, município paulista de Rio<br />

Preto, de São Caetano também, foram presos e enviados à Espanha já com Franco desencadeando a<br />

sua incansável matança sobre o povo espanhol, e sendo estes espanhóis, radicados em nossa terra,<br />

entregues aos carrascos franquistas para, sumariamente, serem assassinados (Dias, 1983: 36).<br />

Nesse contexto coercivo em que Vítor vive “dentro de si”, ele, convidado pelo seu<br />

amigo Jorge, um romeno da Bessarábia, de 16-17 anos, passa a freqüentar o Clube<br />

Rumânia, um clube de recreio no Alto da Mooca, onde residiam grandes colônias de<br />

romenos, russos, húngaros e iugoslavos chegados na década de 1920. A adaptação à nova<br />

circunstância fez com que, pouco a pouco, Vítor e os seus amigos superassem o medo e se<br />

reunissem, de novo, nos cafés da Praça da Sé. No círculo de Vítor predominavam os<br />

imigrantes italianos, quase todos artesãos de idéias socialistas, com os que ele volta a<br />

conversar sobre política internacional, especialmente sobre a guerra espanhola:<br />

As horas passaram. As conversas giravam em torno dos últimos acontecimentos. O Estado Novo, a<br />

guerra civil na Espanha. Comentávamos o assassinato, pelos sicários da Guarda Civil, do grande<br />

poeta de minha terra, Federico García Lorca.<br />

Transcrevo aqui um de seus poemas épicos, dirigido à Espanha quando esta sangrava por todos os<br />

povos, vilmente traída. “No hagas caso de lamentos/ Ni de falsas emociones;/ Las mejores<br />

emociones/ Son los grandes pensamientos./ Y puesto que por momentos/ El mal que te hirió se<br />

agrava,/ Y antes que hundirte cobarde/ Estalla en pedazos y arde./ Primero muerta que esclava”<br />

(Dias, 1983: 38-39).<br />

Ele tem que mudar de emprego como conseqüência de um grave acidente que sofre<br />

na fábrica de cristais, começando a trabalhar, como tecelão, na fábrica Gasparian. A<br />

passagem de uma pequena firma a uma grande indústria vale-lhe para relatar as condições<br />

alienantes do trabalho:<br />

Fui para a filial, que realmente estavam contratando tecelões. Havia dezenas no portão enorme.<br />

Empurra daqui, dali, alguma gritaria. Apareceu um homão na porta pedindo calma. Todos seriam<br />

aceitos. Todos seriam contratados, dizia. Calma, repetia.<br />

Em fila por um fomos sendo contratados. Um simples documento de identidade. Quem não tinha<br />

bastava deixar o nome. Num salão enorme, lá fui eu para o canto onde me indicaram o tear, onde<br />

devia trabalhar. [...] Ganhava-se por produção. Ao término das 12 horas saía-se meio tonto. Ninguém<br />

tinha vontade de conversar. Ao sair da fábrica, cada um tomava o rumo de sua casa. Chegava<br />

extenuado. Jantava, e já ia direto para a cama. No dia seguinte entreva-se às 6 horas. Às 5 horas já<br />

me punha a caminho (Dias, 1983: 40-41).<br />

Um altercado com o mestre da sua seção de máquinas fez com que Vítor fosse<br />

despedido do novo emprego. Isso o motivou a se engajar, com decisão, no Partido<br />

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