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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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moças andaluzas, sevilhanas ariscas e maliciosas, estalaram no ar as suas exaltadas castanholas<br />

marcando o ritmo quente dos enérgicos passos gitanos. E os meus olhos exilados das belezas de<br />

Espanha viram, refletida no céu, toda coroada de estrelas, a imagem salerosa da Giralda... Olé!...<br />

Olé!... (Silveira, 1956: 199).<br />

Por outro, menciona sucintamente que soara uma gaita-de-fole: “Ouvimos a gaita<br />

galega despertando nas almas emigradas com a pura ingenuidade das suas melodias, as<br />

sombras de um passado pobre e longínquo” (Silveira, 1956: 199). Silveira não alude à<br />

presença do corpo diplomático espanhol. Genericamente só assinala o comparecimento de<br />

“encantadoras figuras femininas” e de black-ties. Contudo, da sua anotação sobre a reação<br />

das “almas emigradas” perante o toque da gaita-de-fole infere-se que estavam presentes<br />

elementos da colônia galega – imigrantes – na festa. A melodia dessa gaita, apreciada como<br />

ingênua, e a presumível saudade da sua pátria sentida pelos galegos, anotada como a<br />

relembrança da miséria deixada atrás ao emigrarem, mostram tanto a escassa simpatia que<br />

despertava essa música no autor quanto a representação que formara o autor a respeito da<br />

origem desses imigrantes. Assim, nem a música da gaita galega comove ao autor nem os<br />

emocionados imigrantes galegos o comprazem. São, no entanto, a música e a dança<br />

andaluzas e as correspondentes bailarinas, supostamente do sul da Espanha, o que envolve<br />

o autor fazendo-o retrotrair-se aos anos que passara na Espanha: “E essas vozes, essas<br />

melodias fazem-me sonhar com Espanha, sentir o perfume dessas flores de carne morena<br />

que se desfolharam nas sombras crepusculares dos jardins do Alhambra, onde as fontes<br />

choram ainda a morte dos ritmos antigos” (Silveira, 1956: 199).<br />

À Galiza ainda aludirá Paulo da Silveira ao elaborar uma crítica do ensaio Exame da<br />

vida portuguesa, de José Osório de Oliveira, de cujas páginas diz que “encerram trechos<br />

dignos da atenção da crítica luso-brasileira” (Silveira, 1956: 223). Silveira elogia o modo<br />

simples do estilo da obra, a honestidade das meditações que ela contém e o seu “fundo<br />

discreto de patriotismo” (Silveira, 1956: 224). Ao se referir ao teor da reflexão de José<br />

Osório de Oliveira sobre a identidade de Portugal, Silveira sopesa a razão da existência<br />

desse país, concluindo que ela se deve à consolidação de um volksgeist diferenciado do<br />

castelhano, a pesar da continuidade territorial, que orienta constantemente o povo português<br />

à sua realização identitária através das empresas atlânticas. Silveira aponta a saudade da<br />

pátria que sente o português expatriado – o imigrante – como um traço diferencial<br />

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