26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

população. Aqui vivem os descendentes dos portugueses que conquistaram e colonizaram o Brasil,<br />

aqui vive a descendência aborígine dos que habitam o interior do país desde épocas imemoráveis,<br />

aqui vivem milhões provindos dos negros que nos tempos da escravatura foram trazidos da África, e<br />

milhões de estrangeiros, portugueses, italianos, alemães e até japoneses. Segundo o modo de pensar<br />

europeu, seria de esperar que cada um desses grupos assumisse atitude hostil contra os outros, os que<br />

haviam chegado primeiro contra os que chegaram mais tarde, os brancos contra os negros, os<br />

brasileiros contra os europeus, os de cor branca, parda, ou vermelha, contra os da raça amarela, e que<br />

as maiorias e as minorias, em luta constante pelos seus direitos e prerrogativas, se hostilizassem.<br />

Com maior admiração verifica-se que todas essas raças, que já pela cor evidentemente se distinguem<br />

umas das outras, vivem em perfeito acordo entre si e, apesar de sua origem diferente, porfiam apenas<br />

no empenho de anular as diversidades de outrora, a fim de o mais depressa e o mais completamente<br />

se tornarem brasileiras, constituindo nação nova e homogênea. Da maneira mais simples o Brasil<br />

tornou absurdo – e a importância desse experimento parece-me modelar – o problema racial que<br />

perturba o mundo europeu, ignorando simplesmente o presumido valor de tal problema (Zweig,<br />

[1941] 1960: 7-8).<br />

O Brasil seria, portanto, um país exemplar por ter sabido evitar a incidência de<br />

problemas étnicos no convívio entre os campos sociais da nação. Esse estágio da formação<br />

nacional ter-se-ia alcançado através da dissolução dos contrastes “fortes” e “perigosos” dos<br />

grupos exógenos – os imigrantes – e mediante a negação de todas as diferenças, exigindose,<br />

simultaneamente, a recondução do ânimo desses grupos à “criação duma consciência<br />

nacional única”. Zweig ([1941] 1960: 9) diz ter observado que essa estratégia fora um<br />

sucesso, até o ponto de que “em geral, o filho de estrangeiro é nacionalista”.<br />

Para o autor, a atmosfera humana amistosa existente, desde sempre, no Brasil, e a<br />

ausência de quaisquer ódios na vida pública e familiar, unidas à beleza sem-par da natureza<br />

que já se percebe ao desembarcar no país, faziam com que os adventícios fossem<br />

serenamente cooptados pela maneira de viver dos brasileiros. Zweig assinala, no Prólogo,<br />

que essa harmonia social tinha sido notória desde o início da existência do Brasil (“a nação<br />

brasileira há séculos assenta no princípio da mescla livre e sem estorvo, da completa<br />

equiparação do preto, branco, vermelho e amarelo” Zweig, [1941] 1960: 8). Nas conclusões<br />

apresentadas no capítulo dedicado à analise da história do Brasil (Zweig, [1941] 1960: 13-<br />

63), o autor salientou que o talante pacífico e conciliador inerente à natureza do volksgeist<br />

brasileiro, portanto, inalterável, se refletira nos âmbitos da política nacional e nas relações<br />

internacionais. Eis essa apreciação:<br />

105

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!