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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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cariocas: “O Rio é o pomo de mar, é cosmópolis num caleidoscópio, é a praia com a vaza<br />

que o oceano lhe traz. – Há de tudo: vícios, horrores, gente de variados matizes, niilistas<br />

rumaicos, professores russos na miséria, anarquistas espanhóis, ciganos debochados”. Em<br />

A pintura das ruas, crônica recolhida na mesma obra, refere-se aos músicos ambulantes e à<br />

sua presença em tavernas. Diz João do Rio que era corrente que a propriedade delas fosse<br />

de portugueses e de espanhóis e que, conseqüentemente, estes determinavam o tipo de<br />

canções que interpretavam esses músicos: “Nos botequins em que os proprietários eram<br />

portugueses cantava o ‘rebola a bola’, nos estabelecimentos espanhóis, ‘O Caballero di<br />

gracia me llaman’” (Rio, 1908 [1997]: 185). A música popular e a poesia popular são<br />

também a matéria da crônica intitulada A musa das ruas. Nela, João do Rio assinala os<br />

temas recorrentes dos “poetas da calçada”: “o jacobinismo pândego, a crítica acerba, toda<br />

de alto, com desprezo das coisas estrangeiras”. E aponta que a guerra hispano-americana<br />

fora motivo de muitas cançonetas, das quais põe o seguinte exemplo, em que se patenteia a<br />

proclividade dos imigrantes espanhóis para eludirem a convocação a tropas e um desprezo<br />

a eles dirigido pela sua suposta vadiagem: “La Union Española/ Lembrou-se de oferecer/<br />

Passagens a seus súditos/ Para a pátria defender./ Mas eles, que nem lá vão,/ Passam cá<br />

vida folgada/ Quase todos pelotaris/ Nos boliches, nas touradas” (Rio, 1908 [1997]: 397).<br />

Em duas reportagens publicadas em junho de 1904 na Gazeta de Notícias e logo<br />

recolhidas em A alma encantadora das ruas, João do Rio expressa o seu espanto pela<br />

exploração do trabalhador estrangeiro no Rio de Janeiro. Elas são Os trabalhadores da<br />

estiva e A fome negra. Na primeira refere-se às péssimas condições de trabalho e aos<br />

baixos salários dos imigrantes empregados na estiva, concretamente dos que se ocupavam<br />

do carregamento de minério, cuja labuta ele acompanhou se deslocando até o cais e logo até<br />

a ilha onde o minério era depositado antes de ser embarcado. Salienta (Rio, 1908 [1997]:<br />

263) que a defesa corporativa deles começara a dar alguns resultados a partir da fundação,<br />

pelos próprios imigrantes, de um sindicato: A União dos Operários Estivadores. Em A<br />

fome negra, com uma perspectiva determinista, frisa, por um lado, a alienação, pelo<br />

trabalho brutal, que sofriam esses operários da estiva, majoritariamente portugueses e<br />

espanhóis, e, por outro, a frustração dessa mão-de-obra pela impossibilidade de se<br />

enriquecer, o qual era a ilusão que os fizera emigrar:<br />

É uma espécie de gente essa que serve às descargas do carvão e do minério e povoa as ilhas<br />

industriais da baía, seres embrutecidos, apanhados a dedo, incapazes de ter idéias. São quase todos<br />

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