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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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impressões, este seja enunciado como o conjunto das conclusões, dificilmente refutáveis, de<br />

um exame 88 .<br />

III. 1. 6. A apatridia e o imigrante<br />

No Brasil, nas três primeiras décadas do séc. XX, as condições do deslocamento<br />

criaram em centenas de imigrantes, dentre eles, dezenas de galegos, a predisposição para a<br />

adesão à ideologia anarquista. A sensação de interregno – de apatridia – provocada pelo<br />

fato de estar e, ao mesmo tempo, de não-estar, no espaço da partida e no espaço da chegada<br />

favoreceu que esses imigrantes respaldassem sistemas de ideais políticos, e planejamentos<br />

de ações, de cunho internacionalista, orientados a enfrentar as estruturas responsáveis da<br />

sua opressão. No prólogo de Emigrantes, Ferreira de Castro faz questão de frisar que da<br />

leitura do seu romance não se deveria só tirar uma visão negativa das condições de vida dos<br />

imigrantes no Brasil. Ele assinala que as suas denúncias sobre a emigração não tinham que<br />

ser entendidas como conseqüência de um preconceito dele contra a sociedade brasileira;<br />

com elas pretendia-se apontar as estruturas que provocavam a exploração, da qual se<br />

deveria culpar, em primeiro lugar, à Europa:<br />

Não temos lá, porém, nenhuma espécie de interesses. Não teríamos, portanto, vantagem alguma em<br />

afirmar a nossa amizade pelo Brasil se ela, em realidade, não existisse. As nossas idéias e simpatias<br />

estão para além dos nacionalismos agressivos ou retóricos, venham de onde vierem. Além disso,<br />

seria erro atribuir ao Brasil, ou à Argentina, ou à América do Norte, que têm uma organização social<br />

idêntica à de quase todos os outros países, responsabilidades especiais pela derrota que alguns<br />

emigrantes possam sofrer nas suas ambições, tanto mais que é verdade não estar preparada para a<br />

luta a maioria deles, constituída, em muitos casos, por pobres seres ignorantes que a Europa exporta<br />

diariamente. O drama é outro e é universal. Esses homens vão correr a sua aventura porque têm falta<br />

de pão ou porque se convenceram, justamente, de que no mundo em que vivem só quem dispõe de<br />

oiro tem direito às expressões capitosas da vida. Em circunstâncias particulares, são ainda iludidos<br />

por outros homens, que os exploram na sua própria terra, afirmando à ingenuidade deles que, mesmo<br />

assim rudes, mazorros, primários, encontrarão, neste e naquele trecho do Globo, fabulosas riquezas.<br />

E eles partem, então, fascinados pela miragem. Se tivéssemos culpas a estabelecer, à Europa as<br />

debitaríamos em primeiro lugar (Castro, [1928] 1954: 15-16).<br />

88 Reunimos poucos dados biográficos de Auxilio Berdión. Na edição do sábado, 19 de abril 1930, p. 29, do<br />

periódico barcelonês La Vanguardia, há uma noticia intitulada Sabadell: La visita de los periodistas iberoamericanos.<br />

Nela informa-se que, dessa representação de jornalistas, fizera parte “don Auxilio Berdión<br />

Álvarez. vicecónsul del Brasil en Madrid” (Cf.:<br />

. Acesso em: 20 jun.<br />

2009). Em 1937, Berdión publicou, em Salamanca, Madrid en tinieblas: siluetas de la revolución.<br />

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