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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Pátria em 1920. João Carlos Rodrigues publicou, com o título João do Rio: uma biografia<br />

(Rodrigues, 1996), um pormenorizado estudo biobibliográfico desse autor.<br />

Havendo-se envolvido, no seu labor como repórter, na defesa dos desfavorecidos,<br />

tratou em várias matérias a questão migratória brasileira, posicionando-se em favor dos<br />

trabalhadores estrangeiros, sobretudo da colônia portuguesa – a mais vilipendiada no Rio –<br />

ganhando, com isso, a animadversão das sociedades e da imprensa jacobinas e<br />

nacionalistas, e portanto, antilusitanas.<br />

Em uma das obras de João do Rio há uma referência aos galegos, claramente<br />

diferenciados dos portugueses pelo escritor. Está contida em Vida vertiginosa, obra<br />

publicada em 1911 (Rio, 2006). Esse produto é composto por vinte cinco crônicas sobre a<br />

sociedade carioca do início do séc. XX. Em uma delas, O povo e o momento (Rio, 2006:<br />

17-34), um suposto diálogo entre o autor criado pelo escritor e um estrangeiro recémaportado<br />

ao Rio de Janeiro, há uma crítica à falta de caráter da população nativa carioca,<br />

definida, na apreciação de João Carlos Rodrigues (Rio, 2006: XVII), o editor de Vida<br />

vertiginosa, como “uma confusão de elementos em busca de cristalização, supersticiosa e<br />

conivente com a corrupção, paradoxalmente muito promissora como argamassa de uma<br />

grande nação”. Segundo o nosso parecer, na conversa entre o autor e o estrangeiro, a<br />

opinião desse autor é muito ambígua pois, se por um lado salienta que o estrangeiro pode se<br />

estabelecer no Brasil mantendo os hábitos que adquiriu como sujeito de uma comunidade<br />

identitária exógena, por outro ele lamenta a laxidão dos brasileiros, incapazes de imporem,<br />

e mesmo de salvaguardarem, as suas práticas genuinamente nacionais:<br />

A um estrangeiro inteligente que havia meses aqui aportara, perguntei, como toda gente, por uma<br />

fatalidade de raça talvez, as suas impressões.<br />

[...]O povo do Rio está em formação de um tipo definitivo. Por enquanto, dizem as estatísticas, há<br />

maioria de brasileiros e da colônia portuguesa na população. Será assim dentro de vinte anos? Ele<br />

parece que espera com prazer outros elementos componentes. Os elementos de agora são o brasileiro<br />

na maioria filho ou neto de estrangeiro, o português vindo dos campos, das aldeias, e não das<br />

cidades, o espanhol, o inglês, o alemão, o francês, o sírio e, cada vez em maior número, o italiano.<br />

Como o brasileiro é contrabalançado assim e tem ainda por cima o sangue do colono, segue-se que<br />

moralmente ele se sente inferior, elevando um protesto a dizer apenas: – Estou na minha terra!<br />

Sem aliás uma arraigada convicção a respeito. Daí, em vez de se dar o caso da América do Norte em<br />

que se faz a absorção do imigrante, o fenômeno inverso da absorção do nativo pelo imigrante. E o<br />

nativo é de uma plasmaticidade espantosa. A primeira influência é a do português. O brasileiro<br />

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