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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Casais abandona Minas por Araguari em direção ao Estado de Goiás. Encerra a<br />

“Quarta Parte” da sua obra fazendo um comentário comparativo entre a reserva florestal<br />

que havia no centro da cidade de Araguari com o Bois de Boulogne de Paris. O primeiro<br />

faz-lhe evocar o segundo embora perceba que “más se le parecería si estuviese mejor<br />

cuidado” (Casais, 1940: 187). Rumo ao Estado de Goiás, por primeira vez o turista Casais<br />

faz comentários que aludem ao seu cansaço e a um leve aborrecimento. Casais decidira ir<br />

de Araguari até a cidade de Anápolis, em Goiás, de trem. Esse percorrido somava 393 km.s<br />

que o trem salvava em 15 horas. A viagem foi de dia e resultou-lhe assaz fatigosa pela<br />

monotonia da paisagem, o sol e a poeira 464 . A passagem de Casais por Anápolis e, depois,<br />

por Goiânia, é breve 465 . De fato ele vai nessas duas cidades porque são escalas obrigatórias<br />

na, então, longa viagem de Araguari até a Cidade de Goiás.<br />

As estradas pelas quais ele passa no Estado de Goiás eram péssimas. No entanto,<br />

embora ele não oculte o estado calamitoso das rodovias e a precariedade dos meios de<br />

transporte, refere-se à sua travessia com o humor próprio de quem tem previamente<br />

assumido que ela pode, a qualquer momento, se apresentar como uma bizarra aventura 466 .<br />

464 A regularidade da paisagem da região que rodeia o município de Anápolis fora comentada quase cem anos<br />

antes que Casais por um outro estrangeiro, o viajante naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire. Quando,<br />

em 1819, Saint-Hilaire passou por essa região, rumo também à Cidade de Goiás, o município de Anápolis não<br />

existia, mas já se consolidaram os arraiais de Santa Luzia e Meia-Ponte, próximos ao território em que, a<br />

começos do séc. XX, se ergueria o arraial que acabaria se constituindo como município de Anápolis. Ao<br />

contrário de Casais, Saint-Hilaire passou por essa região na estação seca, o qual fez com que à monotonia<br />

física se acrescentasse a aridez do Cerrado: “Depois de ter deixado o Registro dos Arrepentidos, segui pela<br />

Serra do Corumbá e do Tocantins, mais ou menos na direção do Leste, para ir a Vila Boa, capital da<br />

Província, depois de passar pelos arraiais de Santa Luzia e Meia-Ponte. Após subir a serra por alguns<br />

instantes, achei-me num planalto imenso, deserto e bastante regular, coberto ora de pastagens naturais<br />

salpicadas de árvores raquíticas, ora exclusivamente de gramíneas, de algumas outras ervas e de subarbustos.<br />

Quanto às árvores, registrarei unicamente um Solanum, de frutos grandes como maçãs, a que dão o nome de<br />

fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum, Aug. De S. Hil.), e várias Apocináceas, entre as quais a que é usada na<br />

região como purgativo e é chamada tiborna (Plumeria drastica, Mart.) Todas as plantas, ressecadas pelo ardor<br />

do sol, tinham uma coloração amarela ou cinza, que afligia o olhar. Já não se viam mais flores, e o aspecto da<br />

região fazia lembrar Beauce logo após a época da colheita. Unicamente o elegante e altivo buriti, elevando-se<br />

do fundo dos brejos, desfazia essa ilusão. Todo mundo afirma que há nesse planalto um grande número de<br />

animais selvagens, mas que nessa época do ano eles se escondem nas grotas, onde o capim ainda se mantém<br />

fresco. Os pássaros eram também raros até o planalto, quando por ali passei, pois meus acompanhantes<br />

caçaram durante um dia inteiro e conseguiram matar apenas três” (Saint-Hilaire, 1975: 22).<br />

465 Da cidade de Anápolis, Casais (1940: 192) só menciona a sua altitude – 970 m.s –, a benignidade do clima<br />

e o seu futuro promissor quando se desenvolva como centro comercial, isto é, “cuando las riquezas naturales<br />

del interior goyano entren en activa explotación”.<br />

466 Casais não oculta nem denuncia as deficiências das vias terrestres em Goiás na década de 1930. Parece não<br />

se importar com isso e haver assumido previamente que a precariedade das estradas goianas era uma<br />

contingência aventuresca inerente à travessia ao ocidente do Triângulo Mineiro. Essa assunção faz com que o<br />

autor se refira às incidências das viagens rumo à Cidade de Goiás com um talante bem-humorado e fazendo<br />

questão em realçar a ousadia e, simultaneamente, a paciência que teve para poder completar o seu roteiro.<br />

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