26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Olhe, João Mella, boca de ouro: teçamos o véu recamado e sutil da teologia, mas que se entrevejam<br />

por baixo da primorosa tela as formas ideais de Palas Athenéa, mãe de todo saber, e advogada dos<br />

verdadeiros estudantes, isto é, dos que estudam...<br />

Aos 20 de novembro, Fernando registrou, no seu diário, duas excursões que fizera<br />

com Luiz até um cruzeiro misterioso – “o cruzeiro da estrada de Roucos” –. Junto à<br />

narração dessas experiências, incluiu umas considerações gerais sobre os cruzeiros na<br />

Galiza:<br />

O visitante menos observador nota que toda a Galiza está cheia de cruzes: nos cumes, à guisa de<br />

pára-raios, nos tetos dos celeiros, nas encruzilhadas dos caminhos, nas portas das casas, por toda a<br />

parte, os galegos traçam cruzes de pedra, de ferro, de madeira, de massa ou de pano. Por que se trata<br />

de um povo profundamente religioso? Por que há no símbolo sagrado reminiscência de um culto<br />

fetichista, consagrado na heresia priscilianista e jamais extirpado? Por que ainda perdura o mito das<br />

inculturas primitivas, que com uma cruz representavam o homem, assim como com um círculo<br />

representavam a mulher?<br />

[...] Nós, seguindo um costume que não deve ser desrespeitado, deixamos ao pé do cruzeiro umas<br />

espigas de milho, as quais o cura recolhe todos os sábados para custear com elas o culto das Benditas<br />

Almas do Purgatório. Ninguém as roubará, porque seria condenado ao fogo eterno, nem os animais<br />

as comerão, porque, ao chegarem, são perturbados por vozes celestiais, como o lobo de Agubio que<br />

acabou por ser amigo do irmão Francisco de Assiz (Las Casas, 1938: 26-27).<br />

A cultura produzida pela atividade monacal na Galiza é comentada por Fernando<br />

aos 18 de dezembro em decorrência de uma vagarosa visita que ele e Luiz fazem ao<br />

abandonado mosteiro de Santo Estevão – “glorioso mosteiro beneditino” –, “a pouco mais<br />

de três léguas do nosso solar” (Las Casas, 1938: 62-65). Fernando entristece-se perante a<br />

amarga desolação de Santo Estevão; observa que as torres perderam os seus sinos e crê que,<br />

se ainda os houvesse, “os pinheiros distantes, que a estas horas se banham alegremente no<br />

mar de Vigo, e as carquejas ásperas, que se dilaceram ao sol humilde da serra, chorariam,<br />

inconsoláveis, se ouvissem o pranto aflito dos sinos de Santo Estevão...”. Aos cinco de<br />

janeiro, refere-se de novo a sinos; desta vez trata-se dos sinos da “torrezinha” da igreja de<br />

São Damião, cujo som, procedente de um vale, Fernando escuta do paço. Ele reflete sobre a<br />

função social dos sinos; compara as modestas badaladas de São Damião com as grandiosas<br />

badaladas dos sinos que, das grandes cidades, “enchem o mundo” e elabora um breve<br />

ensaio sobre relevância que, não obstante o seu escasso valor material, têm esses sinos:<br />

Meus sinos de São Damião são pequenos, pobrezitos, flébeis; não luzem brasões nem legendas [...].<br />

[...] deploram angustiados, porque a sua voz é muito débil e não pode levar tão longe a resposta; às<br />

803

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!