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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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se incentivar que o retornado realize a auto-análise da sua experiência, ou ao se evitar a<br />

difusão dessas auto-análises, a sociedade de emigração distancia-se da intelecção da<br />

circunstância miserável que propiciou as situações particulares derivadoras em processos<br />

migratórios.<br />

O êxodo e o imigrante<br />

Na tradição judeu-cristã, o êxodo, com a sua espera longe da pátria, é o caminho<br />

para a purificação. Essa purificação torna-se necessária quando um indivíduo, ou um povo,<br />

errou ao desobedecer alguma norma ou violar algum preceito. Assim, a redentora<br />

vagabundagem que se segue à ruína e ao exílio é, no Livro de Jeremias (Bíblia Shedd,<br />

1997: 1071-73), a maldição com que o Senhor castiga o povo enganado e corrupto. De um<br />

outro clássico, a Odisséia, depreende-se que a viagem coloca, aos que a assumem, em<br />

situação de debilidade e penúria. A estada longe da pátria constitui uma provação para o<br />

viajante; outrossim se arrisca quem decide se relacionar com ele 74 . A viagem também pode<br />

ser interpretada como um demorado processo para o conhecimento, como nos versos de<br />

Kaváfis dedicados a Ítaca 75 :<br />

74 Sob o título El viajero desnudo (Piñeiro, 1981), e mediante a hiperbolização do insólito, Juan Piñeiro<br />

parodiou a provação e os riscos a que se enfrenta o forasteiro, como assunto recorrente dos livros de viagens.<br />

El viajero desnudo é uma narração de incidentes fantásticos e de bizarras experiências sexuais. No Prólogo –<br />

Cómo llegar a ser explorador. Breves advertencias para el que quiera iniciar un viaje maravilloso –, o autor<br />

ridiculariza os freqüentes conselhos para viajantes que escrevem os protagonistas de travessias pelo exótico e<br />

misterioso. O autor caçoa também das vivências interiores tidas em rituais de passagem. O sarcasmo em<br />

relação às recorrências argumentais dos livros de viagens é aplicado no Prólogo a partir dos seguintes itens: I.<br />

Estudio preliminar de la región que se pretende explorar; II. Información sobre las lenguas y costumbres<br />

extranjeras; III. Organización de la expedición y medios de transporte; IV. Los regalos; V. Los alimentos; VI.<br />

Precauciones a tomar durante la noche; VII. Cómo atravesar un curso de agua y algunos últimos consejos al<br />

explorador. No último capítulo – o capítulo XII – de El viajero desnudo, o autor ludibria as notas com que se<br />

costuma encerrar os livros de viagens, nas quais se pretende transmitir a transcendência, e a conseguinte<br />

ruptura na seqüência biográfica, que proporciona ao sujeito a experiência desconcertante de uma travessia<br />

distinta: “Mis horas son tulipanes cerrados. No tengo sueños para descifrar ni recuerdos acechando detrás de<br />

las puertas. El único viaje está en mí. Densas telas de araña rodean mi desnudez sedentaria, envuelven mi<br />

cuerpo deslumbrante, mariposa perfecta y cumplida que prefiere seguir siendo crisálida. La silla es<br />

confortable. La noche es toral. El viaje es entonces absoluto, preciso, incomparable. Abiertos, mis ojos están<br />

fijos en el vacío, inmóviles. Mi corazón no late, inmóvil. Mi pecho no respira, inmóvil. Mis sienes no<br />

palpitan, inmóviles. Mis brazos están hundidos en un sueño letárgico. Mis piernas han alcanzado, quietas, la<br />

morada de la indolencia inalterable. Mis manos, adormecidas, sueñan. El viaje es entonces perfecto, es el<br />

solo, el único viaje posible. Veo un sol llameante. Veo una blanca garza real de Noda que eriza sus plumas.<br />

Veo piernas hundidas en arenas movedizas y un beso furtivo. Siento las antiprotones llegar desde sus fuentes<br />

de antimateria escondidas en el espacio. Veo una isla. Descubro islas en todos los horizontes, como discos de<br />

oro, resplandeciendo entre todas las sombras y todos los resplandores” (Piñeiro, 1981: 139-40).<br />

75 Na sua introdução à Antologia de poesia galega por ela organizada, Yara Frateschi Vieira (1996: 17-18)<br />

destaca o uso simbólico de referências a Ítaca como um elemento do repertório temático de alguns produtores<br />

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