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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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especiais pela necessidade que eles tinham de investir toda a sua capacidade individual em<br />

progredir, pois, para alcançarem esse progresso, ao chegarem despojados do recurso ao<br />

auxílio de rendas hereditárias, só podiam contar com a sua força e a sua ambição para os<br />

empreendimentos econômicos. O progresso paulista, segundo Zweig, não era compatível<br />

nem com a estética nem com os sentimentos; precisava-se que fosse assepticamente<br />

materialista. Os trabalhadores estrangeiros assentados em São Paulo tinham a função de<br />

provocar a sua emulação da sua atitude por parte dos “filhos do país”, já residentes em São<br />

Paulo, ou que a São Paulo se deslocavam pelas notícias transmitidas em relação ao lucro<br />

que esses imigrantes lá obtinham 73 .<br />

III. 1. 4. O imigrante e o lucro<br />

A busca de trabalho bem remunerado no exterior é o móvel da emigração, mas essa<br />

razão de ser constitui paralelamente o estigma da imigração. O migrante busca emprego<br />

fora da sua pátria e nação porque estas não lho oferecem na medida das suas pretensões.<br />

Por isso ele deve aceitar converter-se em um sujeito não-nacional em trânsito em um país<br />

que, indefinidamente, tolera a sua presença sempre que ela esteja revestida de utilidade<br />

econômica e social – de utilidade nacional –, da qual se almeja que os benefícios<br />

produzidos superem por ampla margem os custos causados.<br />

73 Em Brasil, país do futuro, não há nenhuma passagem sobre a imigração européia em que Zweig mencione<br />

os espanhóis. Ao se referir à imigração na cidade de São Paulo, são os italianos o grupo em que o autor baseia<br />

a sua valorização acerca dos aportes dos trabalhadores estrangeiros ao progresso do Brasil. Eis a apreciação<br />

de Zweig sobre as características da imigração italiana nessa cidade: “O verdadeiro impulso para o progresso<br />

foi trazido pelos imigrantes nos últimos decênios do século dezenove. Instintivamente procura o imigrante<br />

condições de vida e clima que correspondam aos que tinha em sua pátria; os italianos, que constituem a<br />

maioria dos imigrantes, encontram em São Paulo o clima do Norte e do centro da Itália e o sol do sul da<br />

Europa. Eles não têm que se adaptar; trazem consigo toda sua energia e ainda a fortalecem no Brasil. O<br />

imigrante tem sempre maior sofreguidão de progredir do que o filho do país, não possui bens de herança dos<br />

quais possa viver sem trabalho, e tem que adquirir tudo pelo labor. Isso aumenta a sua atividade, isso faz com<br />

que dispenda maior energia. E essa energia e esse espírito de empreendimento estimulam os filhos do país;<br />

justamente os brasileiros mais dispostos para o trabalho e mais ambiciosos se estabelecem em São Paulo,<br />

onde encontram esses trabalhadores mais civilizados, mais bem preparados e mais operosos. O capital, por<br />

sua vez, aflui em massa para o espírito de empreendimento, uma roda engrana na outra, e assim a máquina do<br />

progresso de ano para ano trabalha com maior velocidade. Quatro quintos do total produzido hoje de modo<br />

organizado e industrialmente no Brasil têm origem em São Paulo. Esse Estado, mais do que qualquer outro da<br />

União, mantém a economia nacional em equilíbrio; é, de certo modo, o centro muscular do Brasil, o órgão da<br />

sua força. O músculo é, sem dúvida, no organismo um dos elementos mais necessários, mas não é um órgão<br />

bonito. Quem espera ter da cidade de São Paulo impressões estéticas, sentimentais ou pitorescas, fique<br />

sabendo que São Paulo é uma cidade que cresce para o futuro, e ela o faz tão rápida e sofregamente que não<br />

presta muita atenção ao seu presente e ainda menos ao seu passado” (Zweig, [1941] 1960: 175).<br />

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