26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

primeiro a ter uma bola de borracha mas, em uma ocasião, requisitou-lha um guarda civil e<br />

rachou-na com um canivete. Paquito enfrentara-se ao guarda e, para se vingar, furtou-lhe o<br />

seu distintivo de policial que só devolveu quando o guarda abonou o valor de uma pelota<br />

nova. Vítor comenta que a afeição pelo futebol fez com que alguns desses meninosimigrantes<br />

da Várzea paulistana oriundos da Espanha formassem, quando adultos, um time<br />

chamado Madrid:<br />

Muitos destes companheiros de “peladas” e arruaças – sem maiores conseqüências – inesquecíveis,<br />

tornaram-se diretores, fundadores e jogadores do glorioso MADRID, clube da década de 40, que<br />

seria campeão dos campeões da Várzea paulistana. Diretor, como Salvador, serralheiro; jogadores,<br />

como Mário, “pescoço torto”; Ribas, Pedrinho, Manolo, Genarinho, Vega e tantos outros. Nada<br />

receberam em troca. Nenhum dinheiro. Nenhuma honraria. Homens que deram espetáculos, que<br />

honraram e dignificaram a única alegria do povo. Brilharam como estrelas de primeira grandeza, no<br />

chão duro dos campos varzeanos. Receberam o amor e o carinho dos torcedores. Deixaram saudades<br />

(Dias, 1983: 20).<br />

Em 1930, a melhora da sua situação econômica permite à família de Vítor mudar-se<br />

para uma casa do bairro do Ipiranga. Nesse bairro, ele matricula-se no Grupo Escolar José<br />

Bonifácio, onde obterá o diploma primário. A mudança coincide com o triunfo da<br />

revolução de 1930 e com a chegada a São Paulo das tropas gaúchas do general Miguel<br />

Costa, a cujo comício ele assiste, pois sentia admiração pelo general e por um outro<br />

revolucionário, o tenente Cabanas, famoso entre a molecada desde a revolução de 1924. O<br />

protagonista também alude às conseqüências da crise econômica que padeceu São Paulo<br />

entre 1930 e 1932 – desemprego e escassez de alimentos –. Nessa circunstância, Vítor e as<br />

suas irmãs começaram a trabalhar; ele em uma fábrica de cristais – a Franco e Cia, na rua<br />

Augusta –, compatibilizando o trabalho com a freqüência às aulas de secundária em uma<br />

escola noturna, e, as suas irmãs, em uma fábrica de meias. Na escola fará amizade com o<br />

seu professor de matemáticas, Vicente, italiano de Trieste, um socialista seguidor de<br />

Mateotti. O protagonista adquire então o hábito de ler o jornal Platéia que ele mesmo passa<br />

a comprar logo de ter adquirido o gosto por esse periódico como conseqüência de haver-lho<br />

lido muitas vezes a seu pai, que era quem, inicialmente, o levava a casa e pedia ao filho que<br />

lho lesse, já que ele era analfabeto. Em Platéia eram inseridos fascículos do romance A<br />

mãe, de Máximo Gorki. Vítor gostava muito dessa leitura e decidiu comprar o romance<br />

porque achava que nele encontraria as respostas aos seus questionamentos sobre as causas<br />

da injustiça social:<br />

402

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!