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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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o protagonista desembarcou junto a seu pai; foram ao mercado e Vítor viu, por vez<br />

primeira, negros. Nos relatos e depoimentos dos imigrantes europeus no Brasil, o encontro<br />

com os negros nos cais dos portos brasileiros em que desembarcavam é salientado,<br />

normalmente, como uma das primeiras experiências que provocaram, nesses adventícios,<br />

surpresa e estranhamento. Vítor, no entanto, os vê por primeira na África equatorial e crê<br />

que o breve passeio que fazia, durante a escala do navio, permitir-lhe-ia presumir, no<br />

Brasil, de que já estivera naquele continente. Nas escalas no Recife e no Rio não puderam<br />

descer, mas, no Rio, a visão da baía de Guanabara e de dezenas de navios em que<br />

tremulavam bandeiras para ele desconhecidas deixara-o maravilhado. O impacto da<br />

impressão recebida ao enxergar a baía de Guanabara é um outro motivo que costuma<br />

constar nos pareceres dos europeus a respeito da sua chegada ao Rio.<br />

O desembarque aconteceu no porto de Santos, aos 2 de março de 1926. É então<br />

quando o autor explica a decisão de seu pai ter decidido se assentar na cidade de São Paulo,<br />

rejeitando o trabalho nas fazendas do interior paulista, apesar de ele ser um camponês sem<br />

qualificação para um trabalho urbano:<br />

Chegamos, depois de horas de viagem, pelo antigo trem dos ingleses, à Imigração da Visconde de<br />

Parnaíba. Verdadeira Torre de babel. Centenas de espanhóis, italianos, russos, romenos, falando,<br />

gesticulando, gritando... mas parecia um “canil”. Ninguém se entendia. Gente de toda a Europa.<br />

Menos os anglo-saxões e nórdicos – estes preferiam a América do Norte. Ficava-se ali três dias. Não<br />

mais. Era preciso dar lugar aos outros que vinham. Levas enormes seguiam nos trens para o interior<br />

de São Paulo. As lavouras de café, em plena ascensão, ansiavam por esses novos braços. Um<br />

sobrinho de minha mãe, o Antônio, veio nos buscar. Conhecendo as artimanhas destas situações, e<br />

sabendo o que nos esperaria na lavoura, nada agradável – sorrateiramente nos tirou da Imigração,<br />

levando-nos para a casa da irmã de minha mãe, já de há muito tempo no Brasil, habitando, por aquela<br />

época, à rua Ana Néri, em São Paulo (Dias, 1983: 16).<br />

A família de Vítor compartilha uma das características predominantes da imigração<br />

galega no Brasil. Esta é a de, apesar de ela proceder do meio rural, recusar-se a ir às<br />

fazendas para se evitar o trabalho agrícola, preferindo-se ficar nas grandes cidades, neste<br />

caso, São Paulo, com o propósito inicial de os seus membros arrumarem emprego de<br />

operários não-qualificados. Isso, no entanto, só era possível quando as passagens não eram<br />

pagas pelo governo brasileiro, senão pelos emigrantes, e quando estes tinham uma carta de<br />

chamada que lhes assegurasse um emprego e lhes determinasse um destino.<br />

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