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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Em Emigrantes, Ferreira de Castro destaca que era o desejo, e a confiança, de um<br />

enriquecimento rápido, mediante o exercício de qualquer ofício proveitoso que estaria à sua<br />

espera, o que fazia que centenas de camponeses europeus, pobres e sem qualificação,<br />

embarcassem rumo ao Brasil:<br />

A Espanha embarcara, em Vigo, uma boa centena de galegos, homens fortes e rosados, que seguiam<br />

ao deus-dará, confiantes nem eles sabiam em quê; todos, porém, dispostos a amoedar na própria pele<br />

o oiro ambicionado. [...] Depois, quando veio o hábito e o oceano se tornou calmo, os galegos foram<br />

os primeiros a desenroscar os corpos. Também italianos, romenos e portugueses não tardaram a fazer<br />

vida no convés superior, debruçando-se, de quando em quando, na extremidade da proa, para ver por<br />

cima da âncora a marcha do navio. [...] Portugueses, galegos e italianos irmanavam-se na mesma<br />

arrastada melancolia, voz de tristeza campesina evolando-se dos lôbregos corredores da terceira até o<br />

mar, que a abafava rapidamente.[...] Os companheiros falavam, as mulheres destrançavam queixas,<br />

mas ele não os ouvia, sempre com o espírito a magicar no que faria o Cipriano quando o visse<br />

aparecer – cá estou, quero trabalho! – e na vida que o esperava, que o esperava de modo indefinido,<br />

como várzea sob nevoeiro. Mas o exemplo dos outros fortalecia-lhe o ânimo. O Lopes ia também,<br />

como ele, ter com um conhecido – e, além disso, acompanhavam-no mulher e filhos. E o Nóbrega? E<br />

os galegos? A mesma coisa, tudo a mesma coisa (Castro, [1928] 1954: 96-101).<br />

O emigrante aceita a emigração como uma provação passageira. Se essa provação é<br />

superada, o sujeito imigrante resolve o sentido da sua emigração, pois, após a obtenção do<br />

sucesso, ele sentirá que cumpriu a sua missão e poderá empreender o regresso. Se nessa<br />

provação fracassa, ele poderá procurar novas chances de provação com vistas à sua<br />

definitiva redenção, ou poderá retornar como um vencido, ou poderá tentar conviver<br />

indefinidamente com a sua derrota no espaço em que foi derrotado e onde não será<br />

recriminado nem interpelado pelas causas da sua derrota, pois os envolvidos nela puderam<br />

assistir diretamente a ela. Paralelamente, para que a realização dessa provação seja<br />

permitida e possa-se desenvolver, o imigrante tem que aceitar previamente uma série de<br />

reservas e condições fixadas pelos agentes que controlam o espaço natural dos nacionais.<br />

Esses agentes sentem-se obrigados a velar pela manutenção do caráter nacional da pátria e<br />

do Estado, para o qual hão de excluir os não-nacionais do campo político exigindo-lhes a<br />

adoção de neutralidade e polidez e a submissão à ordem estabelecida.<br />

A valorização do emigrante no espaço da emigração, e o conseqüente poder<br />

simbólico que lhe outorguem, dependerá do capital econômico que ele acumule no espaço<br />

da imigração. Por mais justificada que seja a opção pela emigração, não basta com que ela<br />

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