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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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que destaca a sua origem humilde, a sua dedicação ao estudo, a sua moral cristã, a<br />

austeridade dos seus hábitos de vida e a sua modéstia pessoal, a sua competência para as<br />

finanças e os bons resultados da sua política econômica. Em relação à política externa<br />

portuguesa planejada por Salazar, Las Casas mostra o intuito evangelizador com que ela é<br />

dirigida pelo ditador:<br />

Português, até a última gota do seu sangue, sonha com que a sua pátria possa reviver as glórias dos<br />

dias imperiais, mas para ele, império não é força militar, dura hegemonia política, extensão territorial<br />

ilimitada, senão garantia para exercer empresa civilizadora e cristã; como os nossos Reis Católicos<br />

importa-lhe possuir terras para resgatar almas. Quando fala de Angola, Moçambique, ou Timor,<br />

pensa na cruz de Cristo navegando por todos os mares, e sob o pendão invicto, marinheiros cantando<br />

em português. Como homem de Estado tem fé nas virtudes do seu povo e entende que não é difícil<br />

restitui-las na sua magnitude primitiva – é um problema de reeducação, de bons conselhos, de<br />

exemplos salutares, de repreensões amáveis; não fazem falta gritos nem forcas (Las Casas, 1937b:<br />

140-41).<br />

Sobre as diretrizes para a política interna marcadas pela ditadura portuguesa, Las<br />

Casas (1937b: 141-42) ressalta a sua moderação, a tendência educativa das instituições<br />

públicas, o nacionalismo sadio e, sobretudo, “uma grande base moral em todas as<br />

manifestações da vida pública ou privada”, com o qual se dera ao país “ordem, estabilidade,<br />

progresso, força, renascimento da consciência nacional e prestígio no concerto das nações”.<br />

Las Casas considera a Hitler o “antípoda” de Salazar devido, em primeiro lugar, à<br />

sua afeição pelo contacto com as multidões, à sua obsessão racial e ao seu talante veemente<br />

e, em segundo lugar, ao tipo de vida de Hitler durante a sua juventude (“Viveu quando<br />

moço uma boemia demasiado acre para poder esquece-la com facilidade, e por isso a sua<br />

concepção do Estado é basicamente econômica e social, com excessiva angústia proletária”<br />

Las Casas, 1937b: 142). O autor diz ter lido Minha luta e considera que o “Führer”<br />

uma parte da concepção fascista, Portugal e Salazar são partes indivisíveis de todo português. Observei, e é<br />

bastante significativo, que os mais devotos partidários de Hitler são os operários, os de Salazar os<br />

agricultores, os de Mussolini os intelectuais, e não resisto a anotar também esta observação: a força de Salazar<br />

multiplicar-se-ia se desse ao seu governo um tom ainda mais fervoroso, mais lírico, mais cheio de ardor,<br />

assim como a de Hitler se limitasse as suas expansões racistas e se acercasse com amabilidade da Santa Sé, e<br />

a de Mussolini se procurasse evitar a inimizade da Inglaterra, fazendo mais compatíveis os seus interesses<br />

com os britânicos, porque desde quatrocentos anos na Europa pode-se viver “sem” a Inglaterra mas<br />

dificilmente “contra” a Inglaterra. Se estes três homens de Estado desaparecessem da noite para o dia, na<br />

Alemanha se produziria uma substituição pacífica, na Itália dominaria o caos e em Portugal apareceria um<br />

novo culto do sebastianismo: toda a saudade portuguesa choraria na tumba do douto professor de Coimbra,<br />

como chorou depois de Alkacerquebir e depois do brutal assassinato de Sidónio Paes” (Lãs Casas, 1937b:<br />

137-38).<br />

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