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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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conjunto de 37 desenhos que acompanham um breve relato literário 173 . O relato é narrado<br />

pelo seu protagonista, um executivo a quem a sua empresa o destina a Belo Horizonte para<br />

que, durante uma breve estadia, observe as possibilidades de incorporar, aos negócios dessa<br />

firma, algumas sociedades comerciais mineiras. A estadia em Belo Horizonte permite ao<br />

protagonista visitar lugares emblemáticos ou pitorescos da cidade em que lhe acontecem<br />

aventuras 174 . Essas vivências são sentidas pelo protagonista de uma predisposição marcada<br />

173 Belo Horizonte não é, no entanto, o primeiro produto de banda desenhada de Miguelanxo Prado publicado<br />

no Brasil, mas é o primeiro referido explicitamente ao Brasil. Em 1991, a Editora Abril Jovem lançou Mundo<br />

Cão dentro da série Graphic Novel – n. 26 –, com a mesma seleção de histórias de Chienne de Vie, produto<br />

cujas histórias foram assinadas por Prado entre 1986 e 1987 e que fora editado em 1988 pelos Humanoïdes<br />

Associés. Mundo Cão é, pois, a tradução ao português das seis histórias curtas em quadrinhos de Chienne de<br />

Vie: Hot-dogs, Um cara desligado, O burocrata, Telejornal das oito, Me descola cem paus?, Terror na praia.<br />

Na edição de Mundo Cão incluem-se uma “biocronologia” de Prado e uma resenha crítica sobre a produção<br />

do autor. A biocronologia, com o título Prado, passo a passo (Prado, 1991: 6-7), abrange toda a vida do autor<br />

até então, isto é, desde o ano do nascimento de Prado – 1958 – até o ano da publicação de Mundo Cão – 1991<br />

–. Nos dados apontados para o ano 1989, indica-se que a historieta dedicada por Prado ao mercado de órgãos<br />

humanos, como conseqüência da divulgação de uma denúncia sobre o tráfico de crianças em Honduras,<br />

intitulada Loada Sea la Ciencia, fora reproduzida no Brasil na revista Aventura e Ficção sob o título Louvada<br />

Seja a Ciência. Na verdade, essa historieta foi publicada no n. 21 [janeiro de 1990] de O melhor do quadrinho<br />

mundial – Aventura e ficção (1990: 25-26), na mesma editora paulistana, a Editora Abril Jovem. Nesse<br />

número, diz-se que Miguelanxo Prado é “um dos mais cultuados desenhistas espanhóis da atualidade” e frisase<br />

que em Louvada seja a ciência está “todo o sarcasmo e indignação” do autor (Aventura e ficção, 1990: 2).<br />

A resenha crítica de Mundo Cão leva o título Um cronista de vanguarda e seus flertes com o delírio cotidiano<br />

– Miguel Angel – Miguelanxo – (Prado, 1991: 4-5), e está assinada pelo jornalista Marcelo Alencar, editor da<br />

revista Graphic Novel. Alencar comenta o que se segue sobre o produtor galego: “Ele não é de muito papo<br />

nem gosta de posar para fotografias, mas pode ser visto vagando sem rumo pelas avenidas movimentadas e<br />

vielas abandonadas de Madri. Nestes ambientes, o galego Miguel Ángel Prado (Miguelanxo, na assinatura)<br />

colhe subsídios e busca inspiração para construir suas historietas urbanas. Membro da cada vez mais inchada<br />

lista de arquitetos que abandonaram a carreira para se dedicar às HQ, o artista projeta, em traços preciosos e<br />

precisos, caricaturas possíveis apenas no espaço bidimensional do papel: seus personagens são distorcidos,<br />

desproporcionais e desequilibrados. As expressões faciais são valorizadas, em detrimento da musculatura<br />

restante. Os protagonistas, eternos anti-heróis, se vêem vítimas de tramas absurdas planejadas pelo acaso –<br />

ácidas ironias da realidade cotidiana. [...] Já as histórias curtas, quando não relatam amargas despedidas de<br />

jovens casais em quartos de apartamentos perdidos na metrópole, procuram ridicularizar com humor<br />

sarcástico e burlesco as situações mais comuns do dia a dia. Esta é a tônica de Mundo Cão, um domingo no<br />

parque segundo um ponto de vista inédito”.<br />

174 Não localizamos nenhuma outra obra literária ambientada em Belo Horizonte ou que tenha essa cidade<br />

como um dos seus motivos entre a produção dos imigrantes espanhóis. Contudo, em 1969, o madrilenho<br />

Mario García-Guillén, imigrante em São Paulo, publicou o romance Frente 313 em que o protagonista –<br />

Mário –, um jornalista que empreende uma viagem pelo Brasil com o intuito de escrever crônicas sobre as<br />

cidades em que se detém, comenta as impressões que Belo Horizonte e Ouro Preto, os seus primeiros destinos<br />

em Minas, lhe causam. Como conseqüência disso, inserem-se breves apontamentos sobre a nova capital<br />

mineira. O protagonista faz os seguintes comentários: “Toda Belo Horizonte era maravilhosa, radiante, na<br />

noite de Natal. As lembranças afligiram-me dentro da alegria readquirida. Pensei: nossa consciência sempre<br />

aproveita a véspera de Natal para revivermos acontecimentos agradáveis do passado, enchendo-nos de<br />

saudade. Pensamos mais, sobretudo quando nos sentimos estrangeiros, e temos uma pátria além, à distância”<br />

(García-Guillén, 1969: 27). Essa mesma viagem a Belo Horizonte foi recriada posteriormente por García-<br />

Guillén, como marco para a ficção, em uma história romanceada da imigração espanhola no Brasil intitulada<br />

Viemos por nuestras águas: espanhóis no Brasil (García-Guillén, 2005a). Nela, dois jovens – Miguel,<br />

imigrante espanhol residente no Rio, e Água – acompanham Ricardo, o seu amigo e o protagonista da obra –<br />

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