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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Uma visão dos bairros paulistanos em que residiam os trabalhadores estrangeiros<br />

faz parte do livro de memórias de Eduardo Dias, Um imigrante e a revolução (memórias de<br />

um militante operário, 1934-1951), publicado em 1983. O alter ego de Eduardo Dias, o<br />

protagonista Vítor, é um menino espanhol, de Granada, que em 1926, aos 9 anos, aportou<br />

em Santos com a sua família – seus pais, a avó materna e duas irmãs mais velhas – e passou<br />

a sua infância e adolescência nos bairros de São Paulo em que se concentraram imigrantes<br />

operários de diversas nacionalidades: Mooca, Brás, Pari, Belenzinho. O discurso de Um<br />

imigrante a revolução não é uma narração destinada ao público infanto-juvenil; trata-se da<br />

apresentação apologética da trajetória vital de um militante comunista – o autor – que<br />

escreve em primeira pessoa. A obra abrange toda a biografia ficcional desse autor, desde o<br />

seu nascimento em 1917 até a sua velhice, e nela justifica-se o seu engajamento na causa<br />

comunista. Porém, há um pulo entre o ano 1951 e finais da década de 1970, já que o<br />

principal intuito do autor é a evocação dos seus anos de intensa militância comunista,<br />

coincidentes com a década de 1940.<br />

Na narração não há propriamente uma revisão de vida, senão a exposição do<br />

processo de formação da consciência de classe do autor/ protagonista, da aparição, nele, do<br />

ânimo de liderança sob a ideologia comunista e das ações que ele empreendeu na luta<br />

proletária em favor dos móbeis do Partido Comunista Brasileiro. O discurso narrativo surge<br />

da relembrança que o autor faz da sua infância durante uma viagem de trem, já idoso, por<br />

volta do ano 1977:<br />

Ao apanhar o trem, sentei num dos bancos. Encolhi-me todo. Não tive vontade de olhar a paisagem.<br />

O pensamento voa rápido para o longínquo passado. Não podia conter essa coisa estranha, que não<br />

era palpável mas que dominava nossas ações. E me vi criança, com cinco anos, seis, sei lá...<br />

brincando na areia cheia de conchas e pedras, de uma das praias da cidade, toda branca, pintada de<br />

cal, como são todas as cidades mediterrâneas, principalmente as de origem árabe. Almunhecar.<br />

Cidade costeira da província de Granada, onde tive a felicidade de nascer, em novembro de 1917.<br />

Nesta época, um punhado de bravos e geniais revolucionários lidera o proletariado russo para o que<br />

seria o maior acontecimento na história da humanidade, a Revolução de Outubro, varrendo da Rússia<br />

czarista a infame exploração do homem pelo homem, iniciando o proletariado a sua caminhada para<br />

o estabelecimento do socialismo (Dias, 1986: 12).<br />

Vítor, o protagonista, revê a sua vida desde a sua maturidade – a sua velhice –,<br />

interpretando o seu passado a través do habitus que ele possui no momento em que<br />

apresenta a sua história. Na menção dos motivos que fizeram com que a sua família<br />

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