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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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era efetiva. Fernando, quem percebera e explorara a atitude narcísica de João e a inclinação<br />

de Luiz para o amor homossexual, retratando senhor e serviçal como sujeitos andróginos,<br />

reflete também, aos 17 de agosto (Las Casas, 1938: 155-57) acerca das causas da<br />

homossexualidade – “intersexualidade” – entre a juventude que lhe era contemporânea. Ao<br />

respeito elabora um longo discurso no qual traça a apologia da “intersexualidade”<br />

baseando-se em uma argumentação em que salienta as dificuldades que tinham os jovens,<br />

bem formados intelectualmente e com aptidão profissional, de encontrar uma mulher que<br />

pudesse agir como um par capaz de o compreender e complementar, pois eram poucos os<br />

indivíduos do sexo feminino que sentiam a inquietação pela aquisição do conhecimento,<br />

não podendo, portanto, se apresentar como interlocutor válido para o varão.<br />

Conseqüentemente, esses jovens tinham que recorrer ao convívio dos seus colegas homens<br />

e encontrar nele os parceiros que os compreendessem. Esse discurso elaborado por Las<br />

Casas através do protagonista/ primeiro autor Fernando constitui, muito provavelmente, a<br />

primeira dissertação explicativa sobre a causa da “intersexualidade” inserido em um<br />

romance por um galego 572 .<br />

inútil. Luiz continuava indolente os seus desenhos, calado, nesse hermético silêncio de tipo oriental que tanto<br />

pode significar uma sabedoria ilimitada quanto uma estupidez sem limites” (Las Casas, 1938: 134-36).<br />

572 Esta é a reflexão elaborada por Las Casas sobre o “amor intersexual”: “Qualquer observador, um pouco<br />

atento, aprecia como se vai estendendo entre os homens jovens do nosso tempo o amor intersexual. Por que?<br />

Observei centenas de grandes cidades, meios sociais diversos, múltiplos povos, e julgo ter chegado a uma<br />

conclusão. A vida é cada vez mais difícil e penosa e temos de enfrentá-la, na mais difícil competência, bem<br />

capacitados, bem dotados, com o maior cabedal possível de cultura: só assim contamos com probabilidades de<br />

vitória. Aos vinte anos o jovem lança-se à conquista do seu posto, sofrendo a rivalidade de milhares de jovens<br />

que, como ele, desejam garantir o seu leito e o seu pão. Desde os doze anos o menino percebe o porvir de luta<br />

que o espera, e lê sem descanso, estuda sem trégua, para enfrentar a batalha nas melhores condições. Hoje um<br />

estudante de dezasseis ou dezoito anos sabe mais do que sabiam os catedráticos de há cincoenta anos. A<br />

mulher não sente esta inquietação, é, intelectualmente, menos precoce, é mais retardada, é mais débil, e não<br />

pode subtrair-se aos encantos e tentações que a vida lhe oferece com facilidade: cinema, teatros, bailes, trajes,<br />

chás... Entre uma mulher e um homem, ambos com dezessete anos, há um abismo: aquela apenas principiou a<br />

ler meia dúzia de livros insípidos, e este já leu uma pequena biblioteca; aquela vive feliz no pequeno meio da<br />

cidade natal, e este já sente a tortura de todos os grandes problemas do mundo. Quando se encontram pouco<br />

têm de que falar, não há um tema suficientemente intenso que os prenda numa conversação. O jovem sente-se<br />

só, isolado, incompreendido, no entanto quando está com os camaradas desfruta os mais fecundos diálogos.<br />

Quando descansa do seu trabalho, e sai para se distrair um pouco, não procura o convívio com suas amigas ou<br />

vizinhas, incapazes de entendê-lo, e busca os companheiros de aula ou de oficina, porque com eles pode<br />

compartilhar suas preocupações. O jovem atual é mais cerebral do que instintivo, reduz a sua vida sexual ao<br />

mínimo, e ainda nestas relações da carne, quer alguma coisa mais do que simples satisfações passageiras: quer<br />

um pouco de mistério, de novela, de drama e, porque está feito na luta, no combate ilimitado, quer também<br />

um pouco de risco, um pouco de perigo, um pouco de aventura singular. A sua personalidade está<br />

prematuramente definida, e gosta de sentir-se pessoal em tudo, diferenciado, fora do normal e do vulgar” (Las<br />

Casas, 1938: 155-57).<br />

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