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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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denúncias – a inconveniência do Rio como capital e a problemática da questão agrária –<br />

referiram-se a lugares-comuns dos debates sobre as máculas que o Brasil devia apagar.<br />

A pátria como destino turístico do imigrante<br />

Um posicionamento diferente é adotado pelos viajantes que escolhem como destino<br />

turístico o país do qual emigraram os seus ascendentes. Localizamos duas obras cujos<br />

autores eram filhos de pai galego. Estas são Chão galego, de Renard Perez (1972) 120 , e<br />

Espanha gloriosa, de Francisco Maria de Uberaba (1978). Ambos os produtos contém,<br />

junto ao relato da tomada de conhecimento das paisagens estrangeiras, o registro do<br />

encontro com a pátria dos antepassados. Ao programarem as suas estadias na Espanha,<br />

Renard Perez e Francisco Maria de Uberaba não circunscreveram os seus passeios à terra<br />

de seus pais. O pai de Perez era “Porquerós” – a vila de Porqueirós, no município de<br />

Muinhos –, em Ourense, e, o de Francisco Maria, da vila de Pentes (São Lourenço de<br />

Pentes – A Gudinha –), também em Ourense. Eles decidiram aproveitar o seu deslocamento<br />

à península para percorrer boa parte da Espanha e assim conhecer as grandes cidades e os<br />

tópicos do folclore – o flamenco, as touradas –. Francisco Maria de Uberaba recolheu no<br />

seu discurso toda a experiência de viagem, mas Renard Perez centrou a sua narração nos<br />

seus passeios pela Galiza. Embora a obra fosse publicada em 1972, a viagem foi realizada<br />

em fevereiro e março de 1969. Nas semanas que o produtor potiguar/ cearense, mas<br />

residente no Rio, passou na Galiza, ele padeceu estranhamento. De fato, ele declara que<br />

demorara muitos anos para se decidir a conhecer a terra de seu pai – tinha 39 anos quando<br />

viajou com a sua esposa –, pelo pressentimento de que a experiência seria psicologicamente<br />

impactante 121 . Assim, Renard Perez não se sentiu à vontade na maior parte dos momentos<br />

120 Chão galego recebeu, em 2007, uma segunda edição, bilíngüe “galego/ português”, no Rio de Janeiro, pela<br />

H.P.C. Editora, com o patrocínio da Xunta de Galicia, 2007.<br />

121 Apreciamos um paralelismo temático entre o livro de Renard Perez e a crônica Casa de Espanha, datada<br />

em 09.10.2004, inserida no livro Bom dia, Espanha!, de Marcelino Rodriguez (2005), um carioca filho de<br />

viguês emigrado – Bendito Cea Rodriguez –. Do mesmo modo que Perez, Marcelino Rodriguez demorou<br />

trinta anos para se decidir a pisar a terra de seu pai. Mas, no caso de Rodriguez, esse reencontro com a pátria<br />

paterna aconteceu de forma simbólica. Ele decidiu ir conhecer a Casa de Espanha, o clube espanhol da cidade<br />

do Rio de Janeiro, com maioria de sócios galegos, e, lá, segundo ele relata, se reconciliou com a sua<br />

ascendência e sentiu-se envolvido pela Espanha. Eis essa declaração: “Talvez fosse para eu ter chegado há<br />

três décadas atrás. Procuro os nomes dos fundadores e beneméritos na absoluta certeza que haveria um<br />

Rodriguez entre eles. Estão, os Rodriguez, espalhados em toda parte da Espanha, na América e no mundo. No<br />

clube vazio vou explorando os espaços. Somente a biblioteca encontrava-se fechada. Vi os brasões das<br />

províncias. Procurava com os olhos o símbolo dos galegos. Senti, ao mesmo tempo que uma grande solidão,<br />

199

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