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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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interior do templo. O cortejo é seguido pelo “Galego”, quem também entra na Igreja de<br />

Santa Bárbara.<br />

Na didascália do Primeiro Quadro indica-se que há uma mercearia na frente da<br />

Igreja de Santa Bárbara; dela, logo se saberá, é proprietário o “Galego”. Essa mercearia<br />

converter-se-á no ponto em que se encontram os personagens da obra enquanto Zé do Burro<br />

decide como deve agir. Nessa primeira didascália é assim descrita a mercearia: “Numa das<br />

esquinas da ladeira, do lado oposto, há uma vendola, onde também se vende café, refresco,<br />

cachaça, etc.” (Gomes, [1961] 2005: 13). O “Galego”, de quem só sabemos esse apelido,<br />

intervém a partir do Primeiro quadro do Segundo Ato. Na relação de dramatis personae<br />

que abre o texto especifica-se que a ação se desenvolve em Salvador e que a época é a<br />

“atual”. Nela só se menciona que há um personagem chamado “Galego”. A primeira<br />

palavra da sua fala é “Gracias”, que dirige à “Minha tia” – “uma preta em trajes típicos,<br />

com um tabuleiro na cabeça” –. No texto, ao se indicar o personagem, e precedendo a sua<br />

fala, foi escrito “(Espanhol)” (Gomez, [1961] 2005: 43). Nas suas intervenções ele fala<br />

empregando uma interlíngua entre o espanhol e o português. Nesse primeiro quadro ele<br />

classifica-se perante o personagem perante Dedé Cospe-Rima, um mulato boêmio que é<br />

poeta, e diz: “Yo no creo. E yo soy um comerciante” (Gomes, [1961] 2005: 44), com o qual<br />

justifica a sua descrença em relação ao candomblé. De fato, o retrato dele ao longo da obra<br />

mostra um sujeito só preocupado com o seu negócio. Assim, ele ilude-se com a publicidade<br />

que possa receber o seu local com as fotografias que tiram os jornalista que até ele se<br />

dirigem para entrevistar Zé do Burro. A alienação no seu negócio do “Galego” mostra-se,<br />

de novo, no Segundo quadro, quando ele, ao se dirigir a Dedé em relação ao padre que<br />

impede a entrada de Zé do Burro no templo, comenta: “No me gustan los padres. Pero esse<br />

está haciendo um buen servicio. Por causa dele a freguesia aumentou e já fui até<br />

fotografado” (Gomes, [1961] 2005: 63).<br />

O “Galego”, embora obcecado pelo lucro que lhe possa render a sua loja e pela<br />

incidência em favor desse lucro da publicidade que obtinha em decorrência dos<br />

acontecimentos, demonstra destemor ao decidir entrar no templo acompanhando o cortejo<br />

que porta o cadáver de Zé do Burro e mostra uma personalidade firme na rejeição de<br />

crenças e do clero.<br />

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