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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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não podem intervir em auxílio do seu colega desterrado. Os amigos que possa fazer o<br />

estrangeiro no país receptor são julgados por uma Kristeva desconfiada com antipatia. A<br />

autora não considera a alternativa de que o estrangeiro, explorando com vitimismo a sua<br />

desolação, revista de íntima camaradagem algumas das suas relações com os nativos para<br />

aumentar o auxílio obtenível deles. Para ela, o estrangeiro é uma potencial vítima de<br />

aborígines desequilibrados ansiosos por convertê-lo em um objeto das suas terapias. Assim<br />

ela o expressa:<br />

Os amigos do estrangeiro, excetuando as boas almas que se sentem obrigadas a fazer o bem, somente<br />

poderiam ser aqueles que se sentem estrangeiros de si mesmos. Senão, claro, existem os<br />

paternalistas, os paranóicos e os perversos que têm cada um o seu estrangeiro predileto e até mesmo<br />

o inventariam se este não existisse (Kristeva, 1994: 30).<br />

Dentre os nativos, ou dentre os naturais do país de origem do estrangeiro, questionase<br />

por que o alienígena vive isolado podendo se relacionar e unir com outros estrangeiros.<br />

Tratar-se-ia de que entrassem em contato todos os excluídos, raros ou, simplesmente, os<br />

diferentes pertinazes da mesma nacionalidade que residem em um país estrangeiro e de que<br />

criassem, no seio da nação alheia, órgãos para o convívio, o lazer, a autodefesa e a ação<br />

comunitária de adventícios patrícios, ou seja, um encrave dos outros. Não tem importância<br />

que os alienígenas da mesma nacionalidade só se tenham encontrado no desterro, que o<br />

desterro seja o único que os une, pois não possuem capitais semelhantes, nem talantes<br />

comparáveis nem compartilham os mesmos projetos, e não tem importância que estejam<br />

acostumados a excluir-se e a excluir como prevenção antes de serem excluídos. Impõe-se<br />

que, se eles aspiram a se integrarem, sendo os outros, em uma sociedade, se relacionem e<br />

entendam entre si, liberando a sociedade autóctone de responsabilidades para com eles, e<br />

formando uma nação na diáspora dentro da nação em que residem, que não é a sua e que,<br />

portanto, não tem nenhuma obrigação de assisti-los a não ser a de remunerá-los pelo<br />

serviço que prestem, enquanto que eles – os estrangeiros – têm a obrigação de manter viva<br />

a fé nas suas origens e cultuar os ancestrais abandonados, a não ser que queiram ser<br />

considerados uns apátridas desnaturados.<br />

Em paralelo com o descrédito sobre a família e sobre os amigos do sujeito<br />

estrangeiro, aparece o desejo irrequieto de escutar, diretamente desse sujeito estrangeiro,<br />

informações sobre a sua origem – a sua pátria e a sua nacionalidade –. Na opinião de<br />

Kristeva, perante esse interesse dos outros, o estrangeiro, para se expressar, tem que obviar<br />

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