26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

obram cordialmente – diremos de maneira gráfica – e não cerebralmente, e assinalam rumos só de<br />

acordo com os seus afetos; se deixássemos um povo ao peso dos seus instintos, precipitaria-se<br />

inevitavelmente na abjeção. As massas não compreendem nunca como pode ser imprescindível a<br />

aliança com um povo ao que se detesta; começam por não perceber nem o regime político dos<br />

vizinhos se não coincide, ou quando menos é análogo, a aquele peso pelo qual elas se governam (Las<br />

Casas, 1937b: 102).<br />

A vontade popular das massas, no parecer de Las Casas, é iludida, manipulada e<br />

corrompida pelos que controlam o poder, que a direcionam conforme os seus interesses e a<br />

afastam, portanto, da liberdade, com o qual a democracia faz com que a política se converta<br />

em uma “formação parasitária que envolve a vida humana”. Por um lado, nega Las Casas a<br />

racionalidade da combinação do governo democrático com um autêntico regime<br />

monárquico, no qual o rei encarna o poder e não é só um símbolo, e enuncia que ele<br />

entende que as novas ditaduras parecem se apresentar como uma continuidade das antigas<br />

monarquias eletivas, “à maneira goda”. Por outro, afirma que a democracia e as liberdades<br />

– pessoais, políticas, sociais e econômicas – dos cidadãos são conceitos consubstanciais,<br />

mas que a crise que se vivia desde a Primeira Guerra Mundial levantava barreiras<br />

intransponíveis para o exercício dessas liberdades pois obrigara à sua restrição para que os<br />

governantes pudessem assegurar a conservação das bases do Estado 509 . Também considera<br />

que a igualdade é um princípio consubstancial com a democracia, pelo qual cada homem<br />

tem o direito a um voto. Mas, a esse respeito, pontualiza que a articulação natural da<br />

509 Las Casas (1937b: 108) observa que nos países em que ainda se mantinham algumas liberdades estas eram<br />

aproveitadas pelos demagogos para a conquista do extremismo que eles predicavam: “Em alguns países ainda<br />

se conservam certas liberdades, e bem se vê a que extremos conduzem: os oradores podem fazer escárnio do<br />

chefe de Estado, mas quem perde é o prestígio do país que desmerece na consideração do mundo<br />

internacional, e no prestígio do país está a sua economia, quer dizer, o pão dos cidadãos; os jornais, para<br />

entorpecer a ação dos governos, podem promover motins e estimular desordens, mas as suas notícias<br />

refletem-se, no ato, nas bolsas, produzindo muitas vezes catástrofes financeiras de enorme magnitude”.<br />

Destaca (Las Casas, 1937b: 109), além disso, que o número das liberdades é diretamente proporcional ao grau<br />

de desenvolvimento dos povos: “o homem bem educado, integralmente educado, sabe até que ponto carece de<br />

liberdade, porque toda a sua vida social caminha como embutida em normas que o obrigam a comer, a beber,<br />

a dormir, a andar, a falar, etc., com sujeição a cânones estabelecidos, dos que só se sentem livres o rude<br />

montanhês e o pastor nômade, para os quais a vida é floresta virgem”. Contudo, o autor advoga pelo que ele<br />

considera as “liberdades pessoais”, emanadas do cristianismo, que distinguem os bons dos maus homens<br />

através da demonstração da sua capacidade de criação cultural: “Só as liberdades pessoais, aquelas que<br />

correspondem a nossa condição humana, que formam o ambiente do indivíduo, merecem ser amadas com<br />

ardor. Essas estão consagradas no próprio cristianismo, significam o dogmático livre arbítrio, são condição<br />

“sine qua non” para a existência do bem e do mal, do prêmio e do castigo, que prenunciam a nossa vida<br />

ultraterrena – a nossa eternidade. Essas significam o nosso direito e o nosso dever de criação, distintivo entre<br />

o espírito e a alma, serviço obrigatório dos homens á causa comum da cultura” (Las Casas, 1937b: 109).<br />

725

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!