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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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A armadilha desse planejamento deriva da perspectiva gregária que o estabelece.<br />

Trata-se de uma concepção em que se considera que o engajamento social e o convívio<br />

privado do sujeito acontecerão melhor se ele é agrupado com os seus pares, isto é, com os<br />

outros imigrantes a quem esse sujeito está unido pela sua condição de trabalhador<br />

estrangeiro. Assim, a armadilha aparece quando se acusa esse sujeito de não se entrosar na<br />

sua comunidade ou de provocar situações conflitantes inclusive no seu próprio meio, o qual<br />

pode valer para acusá-lo de individualista, de rixento ou de anti-social.<br />

A dissimulação, por parte de um estrangeiro, da sua condição de imigrante, pode ser<br />

entendida pelos nacionais como uma provocação a eles dirigida. Consistiria em uma<br />

impostura com a qual se pretenderia fazer crer aos nacionais que eles carecem de méritos<br />

naturais. Sayad (1998: 281) julga como comportamento “herético” a recusa de um<br />

imigrante a se conformar com as normas que o enquadram, isto é, a sua estrita<br />

subordinação ao trabalho, a escolha de uma habitação identificável como típica de<br />

trabalhadores estrangeiros [temporais], a sua exclusão da participação na política nacional e<br />

a expressão do seu temor à expulsabilidade.<br />

O não-lugar da imigração<br />

O lugar da imigração transforma-se, adaptando um conceito de Marc Augé, em um<br />

não-lugar alheio à dimensão nacional e ao multiculturalismo 94 . Nele realizam-se<br />

transações, isto é, prestações de serviços oferecidas por sujeitos impessoais em troca da<br />

remuneração salarial. No não-lugar da imigração, como um espaço de trânsito que conduz<br />

ao analgésico retorno à nação após a acumulação de poupança, o estrangeiro, identificado<br />

como mão-de-obra, poderá interagir e, assim, cumprir as suas funções e receber,<br />

contratualmente, os rendimentos correspondentes, mantendo o anonimato.<br />

94 No seu livro Não-Lugares/ Introdução a uma antropologia da supermodernidade, Augé conceituou que o<br />

não-lugar “é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos<br />

espaços públicos de rápida circulação – como aeroportos, estações de metrô e pelas grandes cadeias de hotéis<br />

e supermercados. Só, mas junto com outros, o habitante do não-lugar mantém com este uma relação<br />

contratual representada por símbolos da supermodernidade: cartões de crédito, cartão telefônico, passaporte,<br />

carteira de motorista, enfim, por símbolos que permitem o acesso, comprovam a identidade, autorizam<br />

deslocamentos impessoais”. Assim, entre os “não-lugares” estariam “tanto as instalações necessárias à<br />

circulação acelerada das pessoas e bens quanto os próprios meios de transporte ou os grandes centros<br />

comerciais” (Augé, 1994: 36-37). Auge destacou que os não-lugares eram “particularmente visados por todos<br />

aqueles que levam até o terrorismo sua paixão pelo território a ser preservado ou conquistado” (Augé, 1994:<br />

102).<br />

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