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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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na atualidade, o governo estatal espanhol e o governo autonômico galego, por um lado,<br />

praticam políticas de assistência social com os seus emigrantes no Brasil e, por outro,<br />

enviam agentes para a apresentação e a divulgação, entre o público brasileiro afim e,<br />

indiretamente, entre os seus residentes ausentes, de amostras culturais.<br />

Devido às considerações acima esboçadas, com vistas à compreensão dos processos<br />

da produção cultural dos galegos no Brasil, acreditamos que cumpria aprofundar no estudo<br />

das diferenças entre o habitus 25 do imigrante e o habitus do estrangeiro não-imigrante. A<br />

isso é dedicado o Capítulo III desta tese.<br />

25 A noção do conceito habitus serve para investigar as categorias que utilizam os indivíduos para articular a<br />

sua experiência de vida. Para estabelecer a gênese e a estrutura social do habitus de um sujeito que migra<br />

haveria que, simultaneamente, reparar no princípio de sociação e no de individuação. O primeiro faz com que<br />

os migrantes – os sujeitos submetidos a meios, condições e condicionamentos sociais similares de emigração/<br />

imigração – partilhem as categorias sociais de juízo e de ação. O segundo diferencia esses sujeitos, porque<br />

cada indivíduo, devido a ter uma trajetória biográfica única, internaliza as experiências de um modo particular<br />

seguindo esquemas cognitivos e motivacionais próprios, por sua vez agindo, portanto, de um modo particular.<br />

Ambos os princípios são afetados pelo mundo social particular – o campo da migração – em que o habitus do<br />

indivíduo recaia. Da relação dialética que se estabeleça entre o habitus e o campo dependerão as escolhas do<br />

indivíduo e, em decorrência disso, as estratégias que siga, embora essas estratégias possam não ser<br />

objetivamente o resultado da sua intenção estratégica senão da dinâmica de disposições que estimulem as<br />

sucessivas posições que ocupe o indivíduo nas situações sociais que se lhe apresentem. A tradutora ao<br />

espanhol de La distinction [La distinción – Criterio y bases sociales del gusto (Bourdieu, 2000)], Mª. del<br />

Carmen Ruiz de Elvira, reproduz em nota de rodapé a tradução que J. J. Sánchez de Horcajo, autor de La<br />

Cultura. Reproducción o cambio (El análisis sociológico de P. Bourdieu), fizera de umadas definições dada<br />

por P. Bourdieu ao termo habitus. Trata-se de um conceito fundamental na epistemologia e na análise<br />

sociológica de P. Bourdieu, usado já desde a década de 1960 nas suas pesquisas de antropologia econômica<br />

relativas às mudanças na sociedade camponesa do seu Béarn natal, no Sudoeste de França, e às comunidades<br />

cabilas de expressão berbere, na Argélia colonial, e elaborado analiticamente na década de 1970. A noção é<br />

exposta no Esquisse d’une Théorie de la Pratique (Bourdieu, 1972). Eis essa tradução: “El habitus se define<br />

como un sistema de disposiciones durables y transferibles – estructuras estructuradas predispuestas a<br />

funcionar como estructuras estructurantes – que integran todas las experiencias pasadas y funciona en cada<br />

momento como matriz estructurante de las percepciones, las apreciaciones y las acciones de los agentes cara a<br />

una coyuntura o acontecimiento y que él contribuye a producir. (P. Bourdieu, Esquisse d’une théorie de la<br />

pratique, précédé de trois é tudes d’ethnologie kabyle, Droz, Ginebra, 1972, p. 17)” [Bourdieu, 2000: 54∗].<br />

Assim, o habitus de cada indivíduo é estruturado pelo meio social do qual o indivíduo parte e é estruturante<br />

pelas ações e pelas representações que afetarão o desenvolvimento do indivíduo à medida que ele se relacione<br />

com o mundo, percebendo-o e apreciando-o. Loïc Wacquant, professor de Antropologia e Sociologia do New<br />

School for Social Research – Nova Iorque, no artigo Esclarecer o Habitus (Disponível em:<br />

[traduzido<br />

do inglês por José Madureira Pinto e Virgílio Borges Pereira]. Acesso em: 17 fev. 2009), desenvolve, segundo<br />

ele declara no resumo do texto, “uma reconstituição da gênese da noção de habitus”, visando “documentar<br />

algumas das suas principais propriedades teóricas” e efetuando “um pequeno retrato dos principais horizontes<br />

de mobilização sociológica de que a noção tem sido alvo”. Contudo, apesar de ser um conceito-chave nos<br />

escritos de Bourdieu e, como tal, da sua aplicação, um dos meios para entender, mediante a análise<br />

sociológica, o funcionamento dos campos sociais e a execução das estratégias, o significado do habitus não<br />

foi definido de forma definitiva pelo sociólogo. Trata-se, nesse sentido, de um conceito claro, mas<br />

incansavelmente definido, cuja noção, portanto, só é compreensível à medida que se acompanha a bibliografia<br />

de Bourdieu. Wacquant assinala que habitus é “uma noção filosófica antiga, originária no pensamento de<br />

Aristóteles e na Escolástica medieval”. O antropólogo repassa a evolução da conceituação a partir do termo<br />

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