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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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complicado mecanismo” 516 . Las Casas crê que da “consciência prussiana” fundadora do<br />

Império tem-se traçado um continuum inalterável que visa a preparação do povo, mediante<br />

a educação, e do Estado, mediante as reformas na indústria e na agricultura, para a vitória<br />

em uma “batalha decisiva” que abra o caminho à expansão germana 517 . Por sua vez, Salazar<br />

é qualificado como um paciente reformador, como “o tutor, o esteio, o ordenador, o<br />

conselheiro” da vida portuguesa, decadente desde os últimos Braganças e atacada por<br />

parasitas desde a proclamação da República. Mussolini é retratado como o ditador por<br />

excelência, “à maneira clássica”, que impõe caminhos inéditos pois acredita que nada do<br />

pretérito é aproveitável. Dos três ditadores, Las Casas salienta os aspetos em comum e as<br />

diferenças 518 . Demora-se no retrato de Salazar, de quem compõe um perfil biográfico em<br />

516 Las Casas (1937b: 142) utiliza uma imagem ferroviária para descrever as características da situação alemã<br />

sob a ditadura de Hitler: “Voltando à nossa imagem ferroviária diríamos que no trem do seu governo os<br />

trilhos – rígidos – estão feitos: um com o pensamento de aço do Estado Maior, e o outro com uma amalgama<br />

de idéias conseguidas através de Spengler, Ludendorff, Rosemberg, Hegel e Goethe; Hitler alimenta o fogo da<br />

locomotiva com idéias próprias que só em parte são realizadas. Si os alemães não fossem os melhores<br />

cidadãos do mundo, seus generais os mais perfeitos, o ritmo estatal o mais constante e regular; si os alemães<br />

fossem violentos como os italianos e os espanhóis, e a sua elite sensível como a francesa, e Hitler pudesse<br />

atuar com o poder onímodo de Napoleão, no centro da Europa estalaria um vulcão”.<br />

517 Frente aos espanhóis – Las Casas (1937b: 135) afirma que os espanhóis “somos um povo guerreiro por<br />

natureza” –, os alemães são qualificados pelo autor como “um povo militar por excelência” que, desde havia<br />

dois séculos, se dirigia rumo à consecução da sua grande expansão territorial. Esse caminho teria só sido<br />

enturvado durante os dez anos seguintes ao Tratado de Versalhes pela agitação revolucionária dos operários<br />

que “enchia as ruas e perturbava a administração pública, mas que nunca significou senão uma pequena<br />

minoria na opinião”. Las Casas apóia-se em Eugenio Montes para ressaltar a inconsistência da Revolução<br />

Alemã eclodida em novembro de 1918: “Se naquela altura o Kaiser voltasse à Alemanha – me disse uma vez<br />

em Berlim o prof. Eugenio Montes – nem um só alemão lhe interromperia o passo, e o noventa por cento<br />

deles o aplaudiria. Na política interna, como na exterior, os estadistas alemães seguiram a linha inalterável<br />

traçada pelos fundadores do Império, si bem que de 1919 a 29 com mais lentidão, com mais timidez”. Além<br />

de qualificar os alemães como um povo militar, Las Casas (1937b: 136) salienta o seu caráter simples e lírico,<br />

no qual encaixaria à perfeição, como dirigente, Hitler: “Hitler significa a bandeira que envolve toda esta<br />

poderosa estrutura e significa também o mito, o motivo lírico, a arenga literária capaz de manter o afã<br />

trabalhador. Contra o que a gente pensa, os alemães são muito simples e profundamente líricos, e Hitler –<br />

bondoso, puro, virginal – é o homem que pode manter o misticismo da hora, porque sabe falar, e com grande<br />

eloqüência, dos bosques da Turingia, as montanhas da Silesia e a ampla sonoridade do Rheno; gosta de<br />

acariciar as crianças, de velar nas velhas cozinhas da Baviera e de errar pelos campos como um colegial<br />

qualquer. Os sábios e experimentados generais conhecem os dotes extraordinários do Führer, julgam que<br />

serve muito bem para encher esta etapa, o apóiam e o defendem, e Hitler realiza a missão de acomodar a vida<br />

alemã ao supremo fim da sua reabilitação, da restauração nacional; de “conduzir” esforços que andavam<br />

dispersos, por um mesmo caminho e com uma mesma meta”.<br />

518 Afirma Las Casas no tocante às semelhanças entre Hitler, Salazar e Mussolini: “Em alguma coisa se<br />

parecem os três estadistas: os três são homens civis, os três estão entre os quarenta e os cinqüenta anos, os três<br />

são na aparência duros, esquivos, acres e no fundo simples, efusivos, cordiais; os três têm uma extraordinária<br />

capacidade de trabalho, são de uma sobriedade única e de uma pureza sexual que não encontra termo de<br />

comparação”. Sobre os aspectos que diferenciam esses ditadores, Las Casas assinala: “Hitler prescinde dos<br />

seus inimigos, Mussolini os submete, Salazar os ama; Hitler quer fazer um império, Mussolini uma cultura,<br />

Salazar uma nação; Hitler busca limites no espaço, Mussolini no tempo, Salazar na moral; para Hitler op fim<br />

é a Alemanha, para Mussolini o regime, para Salazar o homem; Hitler é uma parte de todo alemão, Itália é<br />

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