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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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afabilidade e com o qual ele tivera um bom entendimento, para a qual compara esse povo<br />

com o da sua “cidade natal”, ou seja, Ourense 529 :<br />

E quero fazer um livro de verdades, a desafiar polêmicas, porque é com a verdade que melhor se<br />

serve o Brasil, porque é com a verdade nua que se pode demonstrar como este país é hoje um dos<br />

mais ricos e felizes do universo. Encontrei quatro ou cinco criaturas ruins, tendo-me dado com mais<br />

de cinco mil; ora, na minha cidade natal, já vos digo que de 30.000 habitantes se podem contar<br />

15.000 repudiáveis e mais dez mil que não prestam, e a minha cidadezinha ainda não é das piores do<br />

mundo (Las Casas, 1939: 7-8).<br />

A narração da viagem (Cap. I Navegando o Rio Branco) inicia-se, in medias res, nas<br />

ruínas do Forte de São Joaquim, construído em 1775, na junção dos rios Tucutú e<br />

Uraricoera, 40 km a nordeste de Boa Vista e a menos de 200 km da Venezuela – “a três<br />

graus, exatamente, de latitude norte” diz Las Casas –, no atual município de Normandia no<br />

que, desde a Constituição de 1988, é o Estado de Roraima. Quando lá esteve Las Casas, o<br />

Território Federal de Rio Branco, e logo Estado de Roraima, fazia ainda parte do Estado do<br />

Amazonas. O autor não informa como chegou até esse forte; limita-se a contar, nesse<br />

começo da sua travessia narrada, que, estando sentado à sombra “de uma corpulenta<br />

mangueira” refletiu sobre as disputas territoriais entre lusos e castelhanos antes de alcançar<br />

“a pequena e atraente povoação de Boa Vista”, a qual ele descreve pormenorizadamente<br />

(história, economia, tipos de habitantes). Detém-se, especialmente, na exposição da<br />

distribuição das tribos indígenas na região e na narração do seu convívio com os monges<br />

529 O encanto e o deleite de Las Casas com os brasileiros que encontra e com quem convive durante a sua<br />

viagem é constante ao longo da obra. Assim o expressa várias vezes. Durante a sua viagem de lancha até<br />

Manaus compraz-se com o trato dos seus companheiros de viagem: “Sinto-me felicíssimo entre esta gente<br />

incomparavelmente afável. De sua bondade dará idéia o seguinte episódio, histórico em todos os seus<br />

pormenores: não há muito tempo, regressava num barco igual a este certo cavalheiro norte-americano que, em<br />

pouco mais de meio ano, havia extraído nestas paragens 350 contos de ouro. Trazia consigo o preciosíssimo<br />

metal, e mostrava-o, com a maior naturalidade deste mundo, aos pobres companheiros de viagem. Em seu<br />

torrão natal, seria necessária uma esquadra em pé de guerra para protegê-lo, e aqui, entre gentes misérrimas, a<br />

ninguém ocorreu uma idéia malfazeja” (Las Casas, 1939: 15). Já em Manaus, destaca o civismo, o bom gosto<br />

e a instrução dos habitantes da cidade: “Tudo é alegre e transborda de felicidade, sem bulha nem matinada,<br />

com gravidade principesca. Percebe-se a ventura no cuidado esmerado das árvores e nas orquídeas belíssimas<br />

que enchem os jardins, e que ninguém corta porque do bem-estar vem o bem-agir. As ruas têm ar de jardins<br />

ducais; as crianças enchem as praças de canções e tudo se vê envolto nessa nuvem de ouro em que se apóiam<br />

os pés dos santos. Pelos passeios públicos, belos bronzes que reproduzem as mais famosas estátuas clássicas e<br />

que denunciam gostos intelectuais que logo se comprovam, casa por casa, na riqueza das bibliotecas”. Sobre a<br />

vida intelectual dessa cidade, Las Casas (1939: 27) não escatima elogios: “Do Manaus que eu vi e vivi, devo<br />

confessar que em poucas cidades de quantas percorri na minha vida, encontrei um grupo de intelectuais de<br />

tanta valia”. No início do Cap. V – A cidade das lágrimas – expressa a emoção extrema que sentiu ao avistar<br />

do navio Araranguá a cidade de São Luiz do Maranhão: “Poucas vezes senti uma emoção tão grande como ao<br />

navegar à vista de S. Luiz do Maranhão” (Las Casas, 1939: 61).<br />

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