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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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portugueses e espanhóis, que chegam da aldeia, ingênuos. Alguns saltam da proa do navio para o<br />

saveiro do trabalho tremendo, outros aparecem pela Marítima sem saber o que fazer e são<br />

arrebanhados pelos agentes. Só têm um instinto: juntar dinheiro, a ambição voraz que os arrebenta de<br />

encontro às pedras inutilmente. Uma vez apanhados pelo mecanismo de aços, ferros e carne humana,<br />

uma vez utensílio apropriado ao andamento da máquina, tornam-se autômatos com a teimosia de<br />

objetos movidos a vapor. Não têm nervos, têm molas; não têm cérebros, têm músculos<br />

hipertrofiados. O superintendente do serviço berra, de vez em quando:<br />

- Isto é para quem quer! Tudo aqui é livre! As coisas estão muito ruins, sujeitemo-nos. Quem não<br />

quiser é livre!<br />

Eles vieram de uma vida de geórgicas paupérrimas. Têm a saudade das vinhas, dos pratos suaves, o<br />

pavor de voltar pobres e, o que é mais, ignoram absolutamente a cidade, o Rio; limitam o Brasil às<br />

ilhas do trabalho, quando muito aos recantos primitivos de Niterói. Há homens que, dois anos depois<br />

de desembarcar, nunca pisaram no Rio e outros que, passando quase uma existência na ilha, voltaram<br />

para a terra com algum dinheiro e a certeza da morte.<br />

[...] - De que nacionalidade são vocês? - Portugueses... Na ilha há poucos espanhóis e homens de cor.<br />

Somos nós os fortes (Rio, 1908 [1997]: 269-70, 276).<br />

Há reportagens e crônicas de João do Rio referidas a assembléias e festas nas<br />

associações portuguesas da capital federal. No corpus do jornalista não localizamos, porém,<br />

nenhuma alusão aos centros espanhóis. Nesse sentido, os imigrantes espanhóis ficaram<br />

relegados a ingrediente anedótico nos trabalhos sobre a marginalidade e a exploração do<br />

trabalhador estrangeiro.<br />

IV. 4. 3. Os periódicos dos imigrantes galegos do Rio de Janeiro<br />

Lembranza de Galicia<br />

A mais antiga publicação editada no Rio destinada especificamente à colônia galega<br />

que localizamos e consultamos intitula-se Lembranza de Galicia; data de março de 1909.<br />

Trata-se do número único de uma revista de 32 páginas, sem numerar, que dirigiu C. de la<br />

Peña. Estava destinada a “honrar á Galicia y á los gallegos”. Na primeira página da revista,<br />

a modo de editorial, há um texto dedicado “Al lector”. Nele C. de la Peña declara que,<br />

cumprindo com o que fora anunciado em um “prospecto”, lançava-se a revista – “nuestra<br />

obra” –, a qual fora “elaborada al calor del inextingible cariño que sentimos por todo cuanto<br />

se relaciona con Galicia y con nuestros conterráneos”.<br />

Por um lado, nesse texto apresenta-se, como justificativa para a publicação da<br />

revista, em primeiro lugar, o oferecimento de um “lenitivo” com o que mitigar a morrriña<br />

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