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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Por trás das margens deslumbrantes, ocultas à indiscrição do turismo comodista, escondem-se as<br />

habitações indígenas chamadas malocas, cobertas com folhas de mirití e com folhas de inajá. Ouvese<br />

o tiroteio dos caçadores de capivaras, cuja pele é vendida a 10$000. Pelas cercanias, oferecendonos<br />

as mais prodigiosas tonalidades, verdejam grandes matas de copaíbas, cuja resina é altamente<br />

medicinal, e elevadas e esbeltas embaubas, de cujas folhas verdes e brancas se nutrem as antas;<br />

agapós que se esforçam por secar charcos, e delicadíssimos araparís, de folhas miudinhas, menores<br />

que as das mimosas (Las Casas, 1939: 14).<br />

Trás 11 dias de viagem, e logo de desembocar no Rio Negro, a lancha de Las Casas<br />

alcança Manaus, onde ele desembarca e à qual dedica o capítulo II – Na corte dos reis de<br />

ouro –. O autor gosta também de Manaus sobre a qual diz que se estava transformando em<br />

uma das mais belas e modernas do Brasil com os seus prédios “de proporções grandiosas”;<br />

resume a história da cidade e detém-se na descrição da época de esplendor que vivera a<br />

cidade a finais do XIX e começos do XX com o comércio da borracha, período em que<br />

afluíram à cidade “importantes contingentes de europeus, especialmente de portugueses e<br />

espanhóis” (Las Casas, 1939: 19). Acompanhado de um grupo de manauenses amigos seus<br />

que lhe servem cicerones para entender o “intrincado labirinto do folclore local”, decide<br />

observar como se passava a Noite de São João em Manaus. Ele diz (Las Casas, 1939: 21):<br />

“recordando as vésperas de São João que passei em Bruges, em Berlim, em Gênova, em<br />

Dar-queb-Dani, em Sabucedo de Montes, em Toledo... pus o maior cuidado em observar<br />

como aqui se celebra a tradicional festividade”. As primeiras horas dessa noite passa-as em<br />

uma chácara onde lhe servem munguzá, do qual diz que se parece muito ao “galaico arroz<br />

com leite”, e aluá, que lhe lembra a “bica galega” e logo vai até uma fogueira, frente à qual<br />

conversa com várias moças. Uma delas presenteou-no com um ramalhete de ervas<br />

aromáticas com as que perfumar o seu banho e assim afugentar os maus espirilos e uma<br />

outra regalou-no com um pacote de folhas secas, a quem Las Casas pediu que lhe falasse<br />

em tupi 531 . Durante o seu passeio pelo lugar onde estavam as fogueiras, depara-se com<br />

alguns fatores da festa que o motivam a fazer mais comparações com a Galiza. Assim, ele<br />

diz que em Manaus, durante a noite do 23 de junho, viu “inúmeros altares pequenos de S.<br />

531 Eis a descrição que faz Las Casas (1939: 22) do encontro com essa moça: “Certa moça, adivinhando<br />

sutilmente a minha qualidade de estrangeiro, ofereceu-me um pacote deliciosamente cheiroso, contendo<br />

folhas secas de “casa preciosa”, “macaca-purunga”, “priprioca” e “pau-rosa”. Pedi-lhe que me saudasse em<br />

tupi, e ela, muito lida e instruída, recitou-me estes versos dulcíssimos: “Seretama uricú palmeira,/ mameme<br />

lugare caruchue,/ uratau mingá pucusáua/ repatrizana manu iché”... Alguém disse-me logo que se tratava de<br />

uma tradução perfeita do famoso poema de Gonçalves Dias: Minha terra tem palmeiras/ onde canta o<br />

sabiá...”.<br />

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