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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Las Casas recomenda aos turistas que, na volta à tarde ao convento da Lapa, se<br />

comprem algumas das guloseimas do convento (“porque nelas está toda a geografia do<br />

Brasil nos mais tenros diminutivos: baianinhos, mineirinhos, carioquinhas...” Las Casas,<br />

1939: 149), tal como fazem as “moças da alta roda” e os “velhos fidalgos” da cidade. Esse<br />

costume local de compra de doces no convento lembra a Las Casas a relação da sociedade<br />

de algumas cidades espanholas com os serviços oferecidos em mosteiros e conventos:<br />

“Lembro o Colégio das Donzelas Nobres, de Toledo, o mosteiro das Beneditinas, de<br />

Solesmes, e aquele de Santa Clara, de Allariz, que educou o rei Afonso X o Sábio e assistiu<br />

às festas nupciais de cinqüenta gerações galegas” (Las Casas, 1939: 150).<br />

Em Salvador, o autor repara com intensidade nas artes visuais, sobretudo na pintura,<br />

o qual o leva tanto a expor os seus pareceres sobre obras de artistas locais quanto a<br />

expressar os seus pontos de vista em relação à pintura em geral. Ele crê que existe um<br />

imperativo geográfico que age sobre a composição pictórica. Assim, opina que não se<br />

poderia conceber que Picasso compusesse a sua obra “na bucólica doçura de uma vale<br />

galego”, que Dalí e Fontanals não fossem senão barceloneses ou que, como conseqüência<br />

da “diáfana” luz de Salvador, a “mais sexual, mais carnosa, mas mediterrânea” das cidades<br />

brasileiras que ele conhece, não tivesse surgido uma escola de pintura. Pelo efeito da luz, a<br />

escola baiana é associável à “mais pura ortodoxia do valencianismo”, sendo Mendonça<br />

Filho “o Sorolha nortista”. Embora não faça parte dessa escola, por ser “um pintor místico<br />

por natureza”, salienta também a Prisciliano Silva “o maior e mais prestigioso pintor<br />

brasileiro” da época (Las Casas, 1939: 157).<br />

Ao se referir à cidade alta, a que acede pelo elevador Lacerda, destaca a inscrição<br />

que há em uma casa situada na rua José Gonçalves em que lê “Louvado seja o Santíssimo<br />

Sacramento” que o faz lembrar uma “saudação semelhante” que havia sobre a porta da casa<br />

dos seus avôs em Sabucedo de Montes: “Nadie pisará este umbral/ sin que diga por su<br />

vida:/ María fué concebida/ sin pecado original”; em decorrência dessa observação salienta<br />

“A qualquer outro estrangeiro impressionará também a jaculatória baiana”, mas especifica<br />

que o talante dos baianos faz com que nas inscrições e nos letreiros que se encontram na<br />

cidade se perceba a cordialidade e a tolerância do povo: “Se o baiano pudesse, acho que<br />

escreveria em todas as esquinas: louvado seja o índio, e o amarelo, e o branco, e o preto; o<br />

católico e o protestante; o grande e o pequeno; o rico e o pobre” (Las Casas, 1939: 155).<br />

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