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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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O seguinte capítulo – Cap. III Em procura do Muiraquitan – é iniciado com a<br />

exposição de uma basta bibliografia sobre as “ubérrimas terras amazônicas”. Las Casas, de<br />

centenas de livros, diz haver selecionado alguns títulos que ele considera indispensáveis<br />

para conhecer as características físicas e a formação identitária da região 533 . Logo conta<br />

algumas lendas que ele ouvira sobre a pedra preciosa muiraquitã e prossegue a narração da<br />

viagem, no navio Cuiabá, pelo rio Negro e pelo Solimões, sendo Santa Maria o primeiro<br />

porto que ele menciona na sua descida pelo, já, rio Amazonas. A atitude cordial que assume<br />

o autor ao longo de toda a viagem faz com que a travessia até o mar, presumivelmente<br />

bastante incômoda ao bordo do Cuiabá, transforme-se em uma travessia exótica de<br />

convívio plácido com os outros passageiros e com a tripulação 534 e de observação alucinada<br />

das tonalidades da selva. Sobre ela diz: “Que prodigiosa é a selva! Dá-nos a impressão de<br />

uma policromia alucinante e, no entanto, é verde, só verde, mas dum verdor que se desfaz<br />

533 As leituras recomendadas por Las Casas (1939: 33-34) para quem pretenda documentar-se sobre as terras<br />

amazônicas são as seguintes: À margem da história, de Euclides da Cunha; o primeiro capítulo de Lendas e<br />

Águas-fortes, de Péricles Morais; Primeiras noções de tupi, de Plínio Airosa; Pussanga, Contos do Amazonas<br />

e Matupá, de Peregrino Júnior; Geologia do Pará, de Frederico Katzer; Os Ingaraunas, Na planície<br />

amazônica, O país das pedras verdes, O mirante do baixo Amazonas e Aluvião, de Raimundo de Morais;<br />

Comissão brasileira no vale do Amazonas, de Avelino Inácio de Oliveira; Marupiara, de Lauro Palhano; Os<br />

caçadores de cabeças do Amazonas, de Up de Graff; Terra de ninguém, de Francisco Galvão, Seiva e<br />

Dicionário de crendices amazônicas, de Osvaldo Orico; Terra de Icaruiaba e Zapa, de Abguar Bastos; O vale<br />

do Amazonas, de Tavares Bastos; Viagem ao Brasil, de Agassiz; Em busca do ouro, de Aurélio Pinheiro;<br />

Poemas amazônicos, de Francisco Pereira; A selva, de Ferreira de Castro; Inscrições e tradições, de Bernardo<br />

Ramos; História do Amazonas, de Artur Reis; Amazônia misteriosa e A Amazônia que eu vi, de Gastão Cruls;<br />

Amazônia, a terra e o homem, de Araújo Lima; O inferno verde, de Alberto Rangel; O país das Amazonas, de<br />

Sant’Ana Nery; Viagem ao redor do Brasil, de Severino da Fonseca; Gleba tumultuária, de Aurélio Pinheiro;<br />

Deserdados, de Carlos de Vasconcelos; Amazônia ciclópica e A cabanagem, de Jorge Hurley; Panoramas<br />

amazônicos, de Anísio Jobin; O circo sem teto do Amazonas, de Ramayana de Chevalier; Terra cabocla, de<br />

Joana Machado; Amazônia, de Honório Silvestre; História do rio Amazonas, de E. Santa Rosa; Terra<br />

imatura, de Alfredo Ladislau; e Porque me ufano do meu país, do Conde de Afonso Celso.<br />

534 Las Casas (1939: 37-39) literatura com humor tanto o carregamento transportado pelo Cuiabá quanto os<br />

passageiros que o acompanham: “Nossa embarcação é pitoresca mais do que possa imaginar-se. Os demais<br />

passageiros são estudantes e caixeiros que passam o dia a jogar cartas. A carga... quisera eu que vocês vissem<br />

nossa carga: castanhas, tartarugas vivas, madeiras preciosas, macacos, borracha, perus, papagaios, peles,<br />

tucanos, galinhas, vacas, passarinhos muito bem engaiolados... Outra arca de Noé, com pombinhas e tudo.<br />

Entre os graúdos viajam um padre muito novo, muito loiro e muito afiado, que me lembra a São João da Cruz;<br />

um polícia que sabe de cor mais de um milhar de poemas de amor; o gerente da Companhia em Manaus,<br />

autoritário como se fosse o presidente do Bank of London; uma morena misteriosa, que poderia ser a Menina<br />

Chole, de Valle Inclán, e o meu inestimável amigo Jacinto Cavalcanti, que, depois de cada refeição, oferece<br />

charutos baianos à vontade, e alimenta a palestra com anedotas do mais fino humorismo. Chama-me a atenção<br />

um grupo de marujos que, na sala de jantar, ocupa a mesa imediata à minha; sempre estão calados e, apenas<br />

servido o café, vão-se para os seus beliches sem conversar com ninguém. Indago do meu camaroteiro. É a<br />

oficialidade náufraga do “Benjamin”, que há pouco se perdeu no Acre. Procuro fazer-me amigo deles. Que<br />

triste lhes é esta viagem de volta, em navio estranho, sem nada que fazer, torturando-se a toda a hora com a<br />

visão dos colegas, satisfeitos como em casa própria. [...] Quisera ser milionário para comprar um barco,<br />

carregá-lo de livros e oferecer-lho, para que fossem por esses mares fora a matar suas saudades”.<br />

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