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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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intuito que tem que tem como principal componente a satisfação das suas emoções como<br />

viajante:<br />

Poderia minha viagem ser penosa – que não foi, senão gratíssima – mas o agradecimento obrigavame<br />

a não considerar os sacrifícios. Ansiava conhecer mais brasileiros, muitos mais, para penetrar, o<br />

mais fundo possível, nos grandes e transcendentes problemas que este nobre povo oferece a toda hora<br />

para assombro do mundo. Sonhava também com pisar, como discípulo humílimo e cordial, os<br />

gloriosos caminhos percorridos por tantos e tantos sábios, curiosos um dia, e presos toda uma vida ao<br />

feitio arrebatador do trópico.<br />

Poderia dizer, num requinte de esnobismo, que parti para o Norte para ter algo nuevo que mirar,<br />

como anunciou meu imortal compatriota Ponce de León ao iniciar o roteiro dos seus descobrimentos,<br />

mas mentiria. Parti cheio de ilusão, comovido, preso a mil tentações que por igual me chamavam: ver<br />

os índios ainda na sua nudez triunfante, dormir sob árvores que presenciaram imutáveis o passo das<br />

centúrias mais decisivas na vida da humanidade, degustar frutas silvestres que, fora do seu clima, são<br />

transportadas como tesouros para as mesas dos príncipes mais suntuosos, beijar a terra por onde<br />

passaram no século XVI espanhóis que corriam continentes virgens como se fossem salões de<br />

dança... ver o Amazonas! (Las Casas, 1939: 5-6) 528 .<br />

Diz o autor que partira rumo à sua travessia tendo incorporado a disposição do<br />

personagem Fradique Mendes, de Eça de Queiroz, isto é, a de “crer para compreender a<br />

crença”, segundo a qual ele empreenderia a viagem estando preparado para “amar os<br />

costumes, asa idéias, os preconceitos dos homens que me cercavam, para os perceber<br />

melhor; ser romano em Roma, enfim”. Las Casas (1939: 7) sublinha que a sua vontade fora<br />

a de observar, com cordial curiosidade, tudo o possível, optando para isso pela sua<br />

aculturação em cada um dos meios sociais em que se detivesse, com o anelo “de ser<br />

cidadão de cada cidade que visitava e camponês em cada herdade em que dormia” e, desse<br />

modo, poder sentir o Norte. Além disso, comunica aos seus leitores que durante a viagem<br />

foi feliz em todo momento, e que tudo deu certo. Nesse sentido, ele, a modo de despedida<br />

do Brasil, tira uma conclusão acerca do povo brasileiro, que sempre o recebeu com<br />

528 Após evocar o Amazonas no Prefácio de Na labareda dos trópicos, Las Casas (1939: 6) menciona que, se<br />

tivesse “um ano de sossego”, realizaria um projeto seu consistente em escrever um livro sobre mitos<br />

geográficos a partir do valor literário que adquiriram uma “dúzia de lugares” de grande significação lírica<br />

para a humanidade: “o Ganges, o Nilo, o Saara, os Andes, o Estreito de Magalhães, o Cabo da Boa<br />

Esperança... o Amazonas!”. O autor considera o Amazonas um “recanto” único de meandros “alucinantes” e<br />

logo da sua experiência como viajante nesse rio diz que gostaria de se encontrar com o seu “caro” Maurice<br />

Barrès, “para desmentir-lhe terminantemente aquela mal pensada afirmação: não há terras desconhecidas,<br />

senão simples repetições da Europa”.<br />

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